Nas urnas, Espanha busca fim do impasse
Em 15 dias, espanhóis votarão nos mesmos nomes, mas esperando resultados diferentes
A Espanha entrou mais uma vez na reta final para tentar definir quem será o novo primeiro-ministro do país, encerrando o impasse político iniciado em 20 de dezembro. Dentro de 15 dias, os espanhóis voltam às urnas com os mesmos candidatos – o conservador Mariano Rajoy, o socialista Pedro Sanchez, o radical de esquerda Pablo Iglesias e o liberal Albert Rivera. O quadro está dividido, mas pesquisas indicam a inversão de posições à esquerda – com os populistas podendo chegar à vitória.
A última rodada de pesquisas, divulgada no fim da semana, indica que Rajoy, atual premiê e chefe do Partido Popular (PP, direita), lidera com margem cada vez menor. Segundo o instituto CIS, ele teria 29,2% dos voto (0,5% a mais do que dezembro). Seu problema é que a esquerda cresceu. Reforçado por uma coalizão, Iglesias, do Podemos, tem 25,6% dos votos (9,3% a mais que em dezembro).
Se o Podemos se tornará a primeira força da esquerda, superando o tradicional Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), de Sanchez, que tem 21,2% das intenções (0,8% me- nos que em dezembro”. Em quarto aparece Rivera, do Ciudadanos (centro-direita), com 14,6% (0,7% a mais do que há seis meses).
Os números são semelhantes aos do instituto Metroscopia e do NC Report, que apontam a mesma ordem e tendência de crescimento do Podemos. O voto esquerdista reuniria agora 44,6% do eleitorado. Em uma hipótese de aliança entre Podemos e PSOE, por ora remota, a possibilidade de Iglesias chegar ao poder se tornaria mais concreta do que nunca.
Em comício em Madri, Iglesias foi ovacionado. Parte do su- cesso tem sido fruto da estratégia de desmontar os rótulos mais comuns que pesaram contra a formação de esquerda radical em dezembro: o de um partido populista e aberto à hipótese de independência da Catalunha e do País Basco – já que defende um referendo nas regiões autônomas. Agora, Iglesias se apresenta como líder da “nova social-democracia”, afastando-se do carimbo populista, e afirma que seu programa de governo é “patriótico e plurinacional”.
Outra estratégia bem-sucedida do Podemos é a de se colocar como o novo pivô do futuro jogo de alianças. Isolado, Rajoy de- ve continuar incapaz de governar, o que daria a Iglesias a chance de tentar montar uma coalizão. Para tanto, ele teria de ter o apoio de Sanchez. “O PSOE terá de escolher”, disse o líder do Podemos, que pressiona o socialista a escolher entre direita e esquerda radical. “Que a militância socialista decida se quer um acordo com o PP ou conosco.”
A necessidade de uma nova rodada de negociações para a formação do governo, causada pela implosão do bipartidarismo, é outra confirmação da campanha. Para o analista Luis Arroyo, a população espanhola já conta com a alta probabilida- de de que coalizões sejam necessárias. “As pessoas querem saber quais pactos os protagonistas serão capazes de fazer após o 26 de junho para que haja um governo. E, em termos políticos, quem terá a liderança à esquerda: Sánchez ou Iglesias. Quem perder, sofrerá, sobretudo se forem os socialistas.”