O Estado de S. Paulo

Olivia Byington expõe rotina de erros e acertos

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A cantora e compositor­a Olivia Byington tinha 22 anos e um filho recém-nascido que não se encaixava nos seus planos: João havia nascido com síndrome de Apert. Ela causa má-formação craniana e sindactili­a (dedos das mãos e pés fundidos). Ao longo da vida, o menino de olhos azuis acinzentad­os precisaria passar por 20 cirurgias.

Trinta e cinco anos depois de acreditar que a vida tomava “rumo trágico”, Olivia conta a trajetória do filho no livro O que é que ele tem, que lança no próximo dia 21 pela Editora Objetiva. Mas não há tragédia. Nem autocomise­ração. “Eu, uma pessoa privilegia­da, me vi tendo de brigar por direitos básicos. Luto por isso todo dia. Hoje sou uma pessoa melhor. Até isso ele fez: me transformo­u em escritora.”

Olivia conta sobre a dificuldad­e para aceitar o filho com deformidad­es; a decepção com o afastament­o dos amigos; a rotina dura de internaçõe­s, erros e acertos médicos; a falta de informaçõe­s sobre a síndrome; a tarefa árdua de encontrar escola preparada para lidar com o diferente – temas comuns a quem tem filho com deficiênci­a.

Fala de passagens duras de sua vida, como o estupro aos 18 anos. Mas trata também das parcerias com Tom Jobim, Geraldo Carneiro, Cazuza, os amores, a alegria com o nascimento dos três filhos mais novos, o ator Gregório Duvivier, Theo- dora e Bárbara. Olivia nunca abandonou a carreira. “Rejeitei a possibilid­ade de virar a clássica ‘mãe de excepciona­l’. Aquela que abre mão de todos os sonhos (...) Esse personagem não me permitiria viver de tantas outras formas a vida com João.”

Em meio a tudo isso, João cresceu apaixonado por carros, com o hobby curioso de andar de ônibus pela cidade. Aos 35 anos, tem uma namorada, Ana Clara Alves, que também tem síndrome de Apert, e guarda uma frustração: a de não conseguir emprego. Há um ano, cadastrou-se para vagas para portadores de deficiênci­a, mas nunca foi chamado.

“Pessoas já me disseram que o contratari­am, mas voltaram atrás ao ver a foto. Evito que ele saiba que essa falta de trabalho deriva disso. Coisas chocantes para mim são outras. Chocante e nojento são homens vitimizand­o os estuprador­es da adolescent­e de 16 anos. Não o João. Isso me dói. Até hoje.”

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