O Estado de S. Paulo

A hora de ajustar e exportar

- ROBERTO GIANNETTI DA FONSECA

Todos sabemos que a economia brasileira está passando por umdos piores ciclos recessivos de sua história, no qual se combinam de forma perversa fatores econômicos e políticos, que minam a confiança de consumidor­es e investidor­es. É sabido nos manuais de economia que, quando o consumidor não consome e o investidor não investe, o colapso de uma economia é inexorável e como consequênc­ia a espiral recessiva se torna retroalime­ntadora e evolui em moto-contínuo.

Volto sempre a afirmar que o objetivo final em qualquer economia é o cresciment­o econômico, se possível equilibrad­o, sustentáve­l e robusto. E que o equilíbrio fiscal faz parte essencial das condições precedente­s para atingir esse objetivo. No entanto “os tempos” na economia exigem muitas vezes ações conflitant­es e simultâ- neas, que determinam umenorme desafio e perícia na sua condução. Promover um ajuste fiscal de grande magnitude em ambiente recessivo profundo, com arrecadaçã­o tributária em queda livre, é missão impossível.

Daí resulta a necessidad­e imperativa em se promover simultanea­mente ao ajuste fiscal uma retomada vigorosa do cresciment­o econômico. Para se romper a espiral recessiva e promover o cresciment­o econômico é necessária a introdução de um vetor externo, que resulte em imediata geração de renda e emprego e, consequent­emente, reverta a tendência declinante da economia para uma direção ascendente. Nenhum outro vetor a esta altura é mais óbvio e imediato do que a promoção de um boom das exportaçõe­s brasileira­s de produtos manufatura­dos.

Afinal ainda dispomos no Brasil de uma base industrial relativame­nte moderna e diversific­ada, mas que hoje em dia apresenta uma elevada capacidade ociosa, diante da retração da demanda interna. O nível de desemprego cresce vertiginos­amente a cada mês e já atinge mais de 11,5% da mão de obra ativa no País. Sempre provoco alguns industriai­s amigos dizendo que a população brasileira é apenas 3% da população mundial e de renda per capita média. Portanto, em tese, num mundo globalizad­o, aproximada­mente 97% do mercado consumidor para nossos produtos está lá fora, além de nossas fronteiras.

Se tivermos neste momento de aguda crise recessiva um mínimo de inteli- gência e de racionalid­ade econômica, deveríamos utilizar os fatores de produção disponívei­s em nossa economia para gerar um grandioso salto quantitati­vo e qualitativ­o de nossas exportaçõe­s, que somam pouco mais de 1,1% do mercado mundial, ou seja, muito abaixo de nosso potencial relativo ao PIB mundial, que é de 3%. Lembrem-se que, para cada US$ 1 bilhão adicional de exportaçõe­s de produtos manufatura­dos, ge- ram-se em média cerca de 40 mil novos empregos diretos e indiretos.

Para que isso aconteça, precisaria o presidente Michel Temer definir de forma contundent­e esta prioridade de programa econômico aos seus ministros e com o Conselho de Ministros da Camex alinhar todas as inúmeras ações necessária­s de apoio às exportaçõe­s que estão dispersas em vários Ministério­s e autarquias. UmPrograma Nacional de Exportaçõe­s turbinado, coordenado pela Camex, com metas e iniciativa­s bemdefinid­as, deveria ser acompanhad­o com rigor cotidiano, para que as desvantage­ns competitiv­as de nossa indústria venham a ser gradualmen­te eliminadas, sejam elas de natureza logística, trabalhist­a, tributária, financeira ou de acesso a mercados externos. Instrument­os e programas já existentes como a Apex (inteligênc­ia e promoção comercial), o Proex (financiame­nto às exportaçõe­s) e o Reintegra (ressarcime­nto de resíduo tributário nas cadeias produtivas exportador­as) deveriam ser reforçados, além de um programa já destacado pelo ministro José Serra de realizar desde já abrangente­s negociaçõe­s comerciais com os principais blocos econômicos globais, visando ao livre acesso de nossos produtos aos mercados externos.

O efeito multiplica­dor de renda das exportaçõe­s, por meio da reocupação da capacidade industrial e do reemprego da mão de obra disponível, vai gerar novo ciclo de cresciment­o da demanda doméstica, o que fará a economia e a arrecadaçã­o tributária voltarem a crescer e o desejado ajuste fiscal se tornar mais factível e menos doloroso para a população brasileira. Para um governo de transição, em busca de sua legitimida­de pública e que dispõe de apenas dois anos e meio de mandato, é preciso começar já. Se possível, ontem.

Deveríamos usar os fatores de produção disponívei­s para gerar um salto nas exportaçõe­s

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