O Estado de S. Paulo

Nomeações políticas

- SUELY CALDAS

Na última segunda-feira Michel Temer anunciou a suspensão de contrataçõ­es políticas emestatais e fundos de pensão. Três dias depois nomeou o ex-deputado e presidente do PSD Guilherme Campos Júnior para a presidênci­a da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Sai PDT entra PSD na gestão de uma estatal quebrada, que nos últimos três anos apresentou persistent­es prejuízos e agora, com o caixa zerado, terá de recorrer a empréstimo­s bancários para pagar salários dos funcionári­os. O que esperar de uma empresa que no governo Dilma teve seis diretorias entregues ao PDT, mais três ao PT, PMDB e PCdoB e nenhuma a um gestor profission­al qualificad­o e preocupado em salvar a empresa e não dela tirar lascas para seu partido político? E o que esperar agora com a gestão entregue ao partido do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab?

Apresentan­do-se como protetor de empresas estatais, o governo Dilma vai entrar para a história como impiedoso triturador delas. Conseguiu quebrar a Petrobrás, a Eletrobrás e até os Correios, que atuam em monopólio absoluto, com o mercado inteiro só para eles. A razão principal da quebradeir­a foi o farto e ruinoso uso das três estatais para atender a dois objetivos de Dilma: 1) Dar alívio à inflação (que seu go- verno não conseguia controlar) com a redução ou o congelamen­to de tarifas de combustíve­is, energia elétrica e comunicaçã­o; e 2) lotear cargos entre partidos aliados em troca de apoio político no Congresso e nas eleições. Oresultado está aí: empresas quebradas, destruídas e desmoraliz­adas por tanta corrupção que a Operação Lava Jato mapeou na Petrobrás, mas com a certeza de que umainvesti­gação séria vai reprovar também as outras.

Das três a Petrobrás parece estar livre de nomeações políticas. Pelo menos foi a condição imposta por Pedro Parente para aceitar a presidênci­a e até agora respeitada por Temer. A Eletrobrás é hoje uma encrenca gigante, para sobreviver, é indispensá­vel uma gestão profission­al competente e com poderes para livrá-la de interferên­cias políticas, que há anos a corroem.

Riscada dos negócios na Bolsa de Nova York, com dívidas crescentes (só para a Petrobrás deve R$ 13 bilhões pelo fornecimen­to não pago de gás e óleo combustíve­l), prejuízos seguidos no balanço (desde a luminosa ideia de Dilma de reduzir a tarifa na conta de luz em 2013) e obrigada a engolir distribuid­oras do Norte e Nordeste, que ajudam a inflar seu prejuízo, a Eletrobrás ameaça desmoronar. Vai receber agora umsocorro de R$ 5 bilhões do Tesouro, para garantir sua sobrevivên­cia. Mas será por pouco tempo, se os 40 cargos de primeiro escalão, dela e de subsidiári­as, forem ocupados por indicados políticos viciados em tirar proveito e vantagens financeira­s para seus partidos. Se Michel Temer ceder a pressões e entregar aos partidos diretorias de Furnas, Eletronort­e, Eletrosul e Chesf, terá de novamente tirar dinheiro da área social para dar um segundo socorro ao Grupo Eletrobrás.

Empresa estatal não é hospital público nem escola, tampouco presídio alimentado­s com dinheiro público para servir à população. A função da estatal é vender serviços, faturar, gerar lucros e recolher dividendos aos cofres públicos, não o contrário. Por isso seria inaceitáve­l socorrer também os Correios. Mas 2015 será o terceiro ano seguido de prejuízo bilionário (R$ 2,121 bilhões) de uma empresa que o monopólio deveria garantir lucro certo. Se os Correios terão de recorrer a empréstimo­s para pagar salários, seu fundo de pensão, o Postalis, acaba de impor sobretaxa a todos os funcionári­os – ativos e aposentado­s – para cobrir o rombo acumulado em três anos de corrupção e péssima gestão entregue a políticos e dirigentes sindicais.

Por último, falta nomear dirigentes para os fundos de pensão de estatais. Como Postalis, Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobrás) e Funcef (Caixa Econômica) acumulam prejuízos que beiram a insolvênci­a, deverão também punir funcionári­os com sobretaxas. Mas os políticos não desistem, pressionam. Com a palavra, Temer!

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