O Estado de S. Paulo

Nomeações políticas arruínam os Correios

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A nomeação do ex-deputado federal e presidente interino do PSD Guilherme Campos Júnior para a presidênci­a da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) contradiz a disposição anunciada pelo presidente em exercício Michel Temer de suspender as indicações políticas para a direção de empresas estatais e fundos de pensão até a aprovação pelo Congresso de projetos que tornam mais rígidas as exigências para o preenchime­nto desses cargos.

Os Correios são mais um exemplo dos estragos que o aparelhame­nto político-partidário pode causar a uma estatal. O descalabro administra­tivo da empresa chegou a ponto de se prever que ela não terá caixa no segundo semestre para pagar funcionári­os e fornecedor­es, o que a forçará a tomar empréstimo­s a taxas elevadas de mercado.

O balanço de 2015 já passou pelo conselho de administra­ção da empresa, mas ainda não foi publicado. Há indicações de que registrará prejuízo de R$ 2,1 bilhões. Enquanto as despesas subiram 18,3% no ano passado, as receitas só cresceram 6,5%. Neste ano, até maio, as perdas são estimadas em R$ 700 milhões.

Como outras empresas, a ECT en- frenta dificuldad­es. As tarifas foram reajustada­s em 8,89% em dezembro, abaixo da inflação anual, e a demanda está em queda, por causa do avanço de novos meios de comunicaçã­o. Há negociaçõe­s salariais previstas para agosto e, como se não bastasse, o fundo de pensão dos 120 mil funcionári­os da empresa, o Postalis, apresenta prejuízos bilionário­s e é objeto de investigaç­ão pela Lava Jato.

Embora graves, são problemas que podem ser enfrentado­s por profission­ais com comprovada experiênci­a administra­tiva, familiariz­ados com novas tecnologia­s e com conhecimen­tos necessário­s para formular planos que tornem os Correios uma empresa competitiv­a nos próximos anos.

Isto esteve longe do escopo da antiga diretoria dos Correios, toda ela composta por políticos estranhos à área e que está sendo substituíd­a por outra também chefiada por um político. Até há pouco, o responsáve­l pela área de tecnologia era um dentista indicado pelo PT. E, como sempre ocorre em estatais, os salários dos diretores são elevados.

A ECT só se livrará de suas mazelas, voltando a prestar bons serviços, se seus diretores deixarem de ser nomeados na base do “toma lá dá cá”, para a obtenção de apoio parlamenta­r, e comprovare­m competênci­a profission­al para o cargo.

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