O Estado de S. Paulo

Meirelles encara seu 1º grande desafio

Na semana em que completa um mês no cargo, proposta do ministro da Fazenda para limite de gastos deve ser apresentad­a ao Congresso

- Adriana Fernandes /

Em seu primeiro mês à frente da condução da política econômica – na pior crise do País em décadas –, se há algo que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, conseguiu explorar muito bem foi o seu capital político.

Mesmo sem ainda encaminhar um projeto sequer para resolver a situação falimentar das finanças do governo, Meirelles conseguiu nesses 30 dias praticamen­te tourear no “gogó” a ansiedade por medidas urgentes cobradas já nas primeiras horas da manhã seguinte à sua posse.

E, ao mesmo tempo, emplacou, sem arranhar a sua imagem, uma meta fiscal com um déficit de R$ 170,5 bilhões, que abriu espaço para despesas maiores em 2016, na contramão do discurso fiscalista prometido.

Os investidor­es confiaram desconfian­do. Em compasso de espera, não colocaram ainda dinheiro no Brasil. A Bolsa de Valores não se movimentou e o dólar mudou mais por causa do efeito da atuação do banco central dos Estados Unidos.

Agora, o jogo para Meirelles começa de fato. Com o envio nesta semana ao Congresso Nacional do texto da Proposta de E men d a Co n s t i t u c i o n a l (PEC), que cria um teto para limitar o cresciment­o das despesas à inflação do ano anterior, o ministro e sua equipe – apontada pelo mercado como o “time dos sonhos” – colocam as suas fichas na mesa.

A aposta é alta. Se conseguir apoio da base aliada e enfrentar as resistênci­as para mudar as amarras do Orçamento, a aprovação da PEC será vista como um “game changer” (mudança de jogo) nas contas públicas do Brasil, na avaliação de um executivo de um banco estrangeir­o, atraindo a atenção de investidor­es externos, provavelme­nte com repercussã­o na avaliação das agências de classifica- ção de risco.

Caso o presidente em exercício Michel Temer consiga aprovar a PEC, na sequência, os dólares devem voltar para o País, com reflexo direto na cotação da moeda americana. Essa é a expectativ­a da equipe econômica e também de analistas do mercado financeiro.

Meirelles já avisou que não vai tomar a frente das negociaçõe­s políticas do Congresso para aprovação da PEC, como fez o ex-ministro Joaquim Levy, de forma isolada e errática. “Essa não é a função do Ministério da Fazenda”, diz ele a interlocut­ores. O seu estilo de decisão é definido por auxiliares como o de um negociador que reúne primeiro as “divergênci­as” para depois buscar a convergênc­ia, com foco em resultados em sequência.

Não há tampouco a correria imposta por seu antecessor no cargo, Nelson Barbosa, que te- ve pouco tempo para mostrar suas propostas num governo encurralad­o pelo processo de impeachmen­t. “A velocidade do ministro é outra”, resume um dos seus auxiliares mais próximos, que vê na descentral­ização uma marca da sua atuação.

O assessor conta que, em meio à pressão por medidas nos primeiros 30 dias de governo, sua resposta foi sempre a mesma: “E ficar ansioso resol- ve?” O sangue-frio nos primeiros dias ajudou.

Na área técnica da Fazenda, que teve de lidar com três ministros em menos de um ano, Meirelles ainda está sendo testado. Não houve grandes surpresas, no entanto, quando o ministro não titubeou em substituir, menos de um mês depois de assumir o cargo, o seu secretário executivo Tarcísio Godoy por diferenças de temperamen­to. É o “jeitão” Meirelles, afirmam.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil