Retração leva jovens ao mercado mais cedo
O supervisor da Pnad Contínua de Salvador, Mateus Bastos, disse que um dos grupos mais afetados pelo desemprego foi o dos jovens de 14 a 17 anos. “O impacto é bem forte nessa faixa”, afirmou. Para Bastos, a situação poderá repercutir, por exemplo, nas taxas de evasão escolar da capital baiana. A taxa de procura de emprego subiu de 54,5% para 75,6%, enquanto em São Paulo variou de 26,6% para 54,2%, na comparação trimestral.
Outro aspecto que o pesquisador destacou é que em cada vaga perdida – e a redução de renda que vem a reboque – ocorre uma reação nas famílias que desemboca em mais pressão sobre o sistema. Os mais jovens começam a procurar trabalho. Essa realidade, segundo ele, já vinha sendo notada nas pesquisas desde 2014. “Houve um desarranjo no mercado e temos oito trimestres sem recontratações”, disse Bastos. Segundo ele, os números apontam a dificuldade com o planejamento das empresas e oscilam perto do pico tendo chegado ao máximo (17,4%) sem descer como costumava acontecer nos períodos de maior oferta de emprego, como o Natal.
dia queimava a moleira na praia e nas calçadas quando o gerente do posto explicou que a média de pesquisas de empregos chega a 70 pessoas por dia. É comum também eles atenderem ainda 45 a 50 pessoas, com senhas distribuídas às 6h na fila, em busca de autorização para receber o seguro-desemprego. “Tá todo mundo desempregado”, disse um homem de cerca de 50 anos, contando que foi demitido dias atrás e que aguardava no posto para pedir o dinheiro do seguro. “A firma mandou embora mais de 150.”
O desemprego que engasga o homem que não quer nem ser identificado assusta também o pedreiro Guaraci Vidal, de 38 anos. Na manhã da terçafeira, ele encaminhava a papelada para receber o seguro-desemprego no posto de atendimento do Sine no Shopping Liberdade, no bairro de igual nome, zona popular de Salvador. Tendo entrado na estatística dos desocupados havia dez dias, contou que mora com a mãe, aposentada, uma irmã e um sobrinho, Natan, de 29 anos, que também procura trabalho. “A gente só ouve falar que é a crise”, disse Vidal ao deixar a sala do segundo andar da galeria na Estrada da Liberdade, periferia de Salvador. O posto atende em média 45 pessoas por dia com hora marcada para consultas de emprego, emissão de carteiras e outros serviços públicos.
De acordo com o coordenador estadual da Pnad Contínua do IBGE, Mateus Bastos, o destaque no caso da Bahia no primeiro trimestre é que “o número de ocupados teve uma queda de 381 mil pessoas em relação ao mesmo trimestre de 2015 (menos 5,7% do total de ocupados)”. Segundo o pesquisador, no mesmo período, o Estado de São Paulo perdeu 219 mil.
Bastos ressaltou que a queda se concentra na indústria (menos 215 mil) e na construção (menos 73 mil). Ele explicou que “a indústria da Bahia, em particular, é relativamente concentrada na região metropolitana de Salvador e que é possível que a diminuição de vagas tenha afetado pessoas que trabalham fora da capital, mas moram na cidade.
Habituado à tarefa de conferir informações de desemprego no setor privado, ele acrescentou que também no setor público há reflexos dos cortes. Bastos argumentou que nem o time do IBGE está imune e disse que vai perder quatro auxiliares que fazem as pesquisas de campo sobre desemprego. Os contratos do IBGE na Bahia não serão renovados.