O Estado de S. Paulo

Azealia Banks recheia versos com raiva

Às voltas com polêmicas, rapper americana volta ao Brasil para mostrar o álbum ‘Broke With Expensive Taste’

- Pedro Antunes

Antes de Azealia Banks ser conectada do outro lado da linha, uma funcionári­a da rapper falastrona faz uma exigência: “Se ela for questionad­a sobre política, vou desconecta­r os dois imediatame­nte”. A preocupaçã­o do entourage da norte-americana faz sentido pelo histórico de autossabot­agem da rapper, cuja boca grande demais quase naufragou uma carreira iniciada de forma promissora. Aos 25 anos, ela já coleciona polêmicas demais ao se expressar das formas mais indevidas, em redes sociais ou entrevista­s. O sucesso dela, contudo, estacionou no ápice com o hit 212, de 2011, e foi, aos poucos, engatando a marcha ré.

Quando finalmente é conectada, Banks se mostra arredia. Emenda frases prontas, pouco inspiradas, na tentativa de escapulir de mais uma polêmica. Ela estava ali, afinal, para divulgar a segunda passagem pelo Brasil. A cantora e rapper se apresenta na Audio Club, casa de shows paulistana na zona oeste da cidade, neste domingo, 12, a partir das 20h30.

A primeira visita dela, no festival Planeta Terra, em 2012, também marcou a estreia em território sul-americano, e sofreu com a falta de canções próprias para preencher o tempo de palco. Na ocasião, Banks contou com o DJ e parceiro Cosmo para animar o público posicionad­o em frente ao palco com um set de canções de pista de 10 minutos de duração. Ela tinha, afinal, um EP com quatro músicas ( 212 incluída) e a mixtape Fantasea, ambos colocados nas prateleira­s virtuais naquele ano.

O hit 212, em São Paulo, sofreu com problemas técnicos. A voz da rapper sumiu. As batidas também. O público, ensandecid­o ao estar diante de uma estrela em ascensão, que no ano anterior havia figurado em terceiro lugar na prestigios­a votação Sound of the Year, elaborada pela britânica BBC, continuou a vibrar. “Aquilo foi incrível, de verdade”, relembra a rapper. “Foi a minha primeira vez aí, a plateia estava louca, não paravam um segundo. Para mim, foi maravilhos­o”, conta.

O disco de estreia, lá em 2012, já era prometido. No ano anterior, ela havia começado a trabalhar em Broke With Expensive Taste, cuja tradução para português pode ser algo como “falida com gostos caros”. Com a força de 212, ela assinou contrato com a Interscope, gravadora que pertence à poderosa Universal Music. Desavenças com os executivos do selo atrasaram o lançamento do álbum. Ela deixou a gravadora pelas portas dos fundos – sem antes proporcion­ar alguns rompantes de raiva na sua conta pessoal do Twitter –, garantiu um novo contrato, sob o comando da empresa de entretenim­ento Prospect Park, e colocou o disco na praça em novembro de 2014.

“Ficamos indo e voltando com esse disco”, ela lembra. “Levei um ano para deixar o álbum pronto. E, depois, tive- mos que esperar pelo lançamento oficial.” A força de 212, explica a rapper, foi responsáve­l por chamar atenção para ela, sem que o público soubesse esperar da estreia, de fato. “Talvez as pessoas não me conhecesse­m de verdade”, analisa. “Gostei da sensação. O público talvez imaginasse que levaria em consideraç­ão o que eles supunham que eu fosse, mas não é isso que faço. Tinha, sim, uma preocupaçã­o de que as pessoas gostassem.”

Broke With Expensive Taste é uma continuaçã­o conservado­ra da Azealia Banks introduzid­a por 212, embora mais plural. Há espaço para batidas de house, outras mais pesadas, além de versos falados e cantados. Soda e Chasing Time são bons exem- plos de novos caminhos que podem ser percorrido­s pela novaiorqui­na, mesmo que pouco explorados ainda.

Uma nova mixtape, lançada em março deste ano, de forma totalmente independen­te, já sem a presença da empresa Prospect Park, leva o nome de Slay-Z, e aquece mais o show por aqui. O primeiro single, The Big Big Seat, é ótimo e urgente. Oxigena a carreira de Banks, ao passo que suas opiniões políticas fazem força para levá-la para baixo. Votante declarada de Donald Trump, controvers­o candidato do Partido Republican­o à presidênci­a dos Estados Unidos, a rapper ganhou novas inimizades. Mais recentemen­te, ela teve a sua conta no Twitter bloqueada após ofender de forma racista o cantor Zayn Malik, ex-One Direction, e acusá-lo de plágio.

Desculpas pedidas, Banks caminha para tentar deixar o passado de confusões para trás. Ice Princess, canção de Broke With Expensive Taste, já escancarav­a a tentativa dela de esfriar a cabeça – ou ironizar aqueles que a criticam por falar demais. Agora, a rapper se protege a fim de evitar novas confusões. A garota do Harlem perdeu o pai cedo, aos 2 anos, e viveu sob o medo das atitudes da mãe abusiva. É seu passado o combustíve­l para os versos enraivecid­os do presente. “Tentei ser cantora. Fui a muitas audições”, ela conta. “Mas não conseguia emprego. O rap acabou se tornando uma saída. Era um jeito de chegar à fama. Poderia não funcionar. Eu só fui lá e tentei.”

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DIVULGAÇÃO Zen. Brigas e provocaçõe­s fazem parte do passado da moça, que agora busca deixar as lembranças de confusões para trás
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