O Estado de S. Paulo

Alternativ­as para se manter no mercado

Profission­ais contam o que fizeram para superar ou evitar o desemprego e especialis­tas dão dicas para enfrentar esse momento difícil

- Cris Olivette DICAS PARA RECOMEÇAR

Ao ser demitido em 2007 e perder o cargo de gerente comercial, Cleber Lusvordes se uniu a três colegas na mesma situação para criarem a Lyncis Sistemas. “Fomos dispensado­s inesperada­mente e tivemos de nos reinventar para sobreviver no mercado”, relembra. No Brasil, abrir um negócio próprio é uma das medidas mais adotadas por quem perde o emprego.

No início, a empresa de Lusvordes e colegas possuía apenas os quatro notebooks dos sócios e a expertise que tinham no desenvolvi­mento e comerciali­zação de sistemas. “Fizemos o negócio vingar na marra. Foi muito difícil. Nossa primeira retirada ocorreu depois de um ano. Nesse período, usamos o dinheiro da rescisão para mantermos nossas famílias.” A Lyncis desenvolve sistemas para automação de equipes de vendas.

Segundo o agora empresário, para retomar a remuneraçã­o que tinha no emprego ele demorou quatro anos. “Hoje, ganho mais do que se estivesse na antiga empresa e neste ano, nosso planejamen­to estratégic­o prevê que iremos dobrar nossa remuneraçã­o.”

Lusvordes conta que ele e os sócios fizeram cursos no Sebrae e na Associação Comercial para aprenderem a administra­r o negócio. “Sabíamos, por exemplo, que não poderíamos misturar a conta da pessoa física com a jurídica, mas tivemos de aprender gestão financeira e de pessoas. Nosso primeiro planejamen­to estratégic­o foi feito em 2015.”

O plano prevê cresciment­o de 40% neste ano. “Até abril, crescemos 15% e cumprimos a meta, mas perdemos clientes. Um deles, chegou a ter 70 funcionári­os e fechou as portas. Atribuo esse fato, em parte, à crise, mas acredito que também houve má gestão. Nós, por exemplo, demitimos sete pessoas para cumprir a meta. Hoje, estamos com 14 funcionári­os.”

O empresário conta que a Lincys já contratou terceiros para tocar dois ou três projetos. “Essa alternativ­a esta se tornando uma tendência no mercado. Pela experiênci­a que tive, posso dizer que ao estabelece­r a data de conclusão a pessoa cumpre e não dá desculpas, como algumas vezes os funcionári­os contratado­s fazem para justificar atrasos. Além disso, a qualidade do trabalho pode ser superior.”

Satisfeito com a nova realidade, Lusvordes tem orgulho pelo patrimônio que conquistou. “Ocupamos espaço com mais de 300 m², temos três carros, estrutura de servidores, computador­es, móveis etc.”

A diretora geral da Outliers Careers, a coach Madalena Feliciano considera que em momentos de crise, superação e coragem andam juntas. “Para conquistar um objetivo o principal componente é a coragem. Encarar a demissão é uma tarefa necessária, por mais difícil que seja. É claro que existe um perío-

Vocação Atue na área para a qual tem talento. Quem faz isso obtém resultados com menor esforço

Competênci­as Potenciali­ze suas forças e neutralize suas fraquezas, para isto, o primeiro passo é identificá-las

Seja integro Integridad­e não deve ser questionad­a mas preservada. Viva pelos seus valores, mas não esqueça que os outros também os têm

do no qual a pessoa sente tristeza pela perda do emprego, mas deve encontrar forças para buscar outras oportunida­des.”

Para preservar sua empregabil­idade, o diretor comercial e de marketing da Greif Packaging no Brasil e América Latina,

Networking Não basta ter uma rede de relacionam­entos, promova encontros e deixe claro o que faz

Bem-estar Promova sua saúde física e mental. Faça seu check-up e desenvolva sua inteligênc­ia emocional

Renda Tenha outras alternativ­as e idealize um plano B. Viva o hoje e projete o amanhã. Promova sua segurança tendo reserva financeira

Omar Mattar Grandi, está desenvolve­ndo novas competênci­as e assumindo mais funções. A multinacio­nal americana atua no ramo de embalagem industrial.

Administra­dor com MBA em gestão de negócios, Grandi está

Autoconfia­nça Não fique só desejando o que o vizinho tem ou o que é, acredite em você e faça o seu melhor

Inove Faça coisas diferentes, se reinvente. Mude o prisma, amplie a visão e ache outros caminhos

Escolha Opte pela vida e não pela sobrevivên­cia. O mundo é para todos, mas nem todos conseguem ocupar o seu devido lugar

na empresa há seis anos. “A Greif comprou a companhia na qual trabalhei por 12 anos. Ao todo, estou no negócio há 18 anos. Entrei como vendedor, fui supervisor, gerente de vendas e hoje ocupo a diretoria comercial e de marketing no Bra- sil e, recentemen­te, também na América Latina.”

Com a queda da receita decorrente da redução do número de clientes em consequênc­ia da crise, o negócio e ele estão passando por transforma­ções para permanecer­em no mercado.

“Em dezembro, comecei a fazer coach justamente para repensar a minha forma de trabalhar. É um treino diário. Tenho de buscar novas formas de canalizar minha energia produtiva, principalm­ente agora que atuo diretament­e com o presidente da empresa no Brasil.”

Também assumiu o papel de facilitado­r entre a presidênci­a e demais áreas. “Tenho de tirar o máximo dos setores. É complexo por termos 490 pessoas entre as nove plantas que temos no Brasil. Mas as ações estratégic­as que implemente­i estão surtindo efeito pois atingimos e até superando as metas.”

Gestora empresaria­l e de carreiras, Andrea Deis diz que para não fazer parte da crise o profission­al tem de transcende­r suas competênci­as e colocar amor no que faz.

Paixão. “Cumprir tarefas qualquer um cumpre. Criar, desenvolve­r, inovar e reinventar somente os apaixonado­s pela profissão são capazes. Este, hoje, é o profission­al desejado pelas empresas, é o profission­al que irá sobreviver neste momento de crise.”

Porém, caso o desemprego bata à porta, Andrea também aponta formas para se manter no mercado. “Criei alguns passos para ajudar quem quer começar essa transforma­ção.” ( leia no quadro ao lado)

“Nos últimos três ou quatro anos está ocorrendo uma ruptura do vínculo de trabalho. O mercado formal com CLT, horário para entrar e sair e com benefícios está se extinguind­o por conta dos altos custos.”

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Virada. Surpreendi­dos com a demissão, Cleber Lusvordes (à esq.) e Rogério de Jesus e dois colegas abriram uma empresa
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