‘Engajar e motivar é ter transparência e ser íntegro’
Executivo diz que, ao longo de 25 anos de carreira, aprendeu que é preciso ter ao seu lado boas pessoas e com alto nível de competência
Há 25 anos, ao dar início a sua caminhada profissional, na Hoescht, Ricardo Marek, hoje com 45 anos, não tinha em seu radar ser presidente para o Brasil e América Latina de uma organização que existe há 234 anos em seu país de origem, o Japão. À frente da Takeda Farmacêutica, atua para garantir o futuro da companhia, em meio à crise econômica. “Quando você se torna um líder global, ou regional, no meu caso, você tem de entender de culturas, ser multidisciplinar, entender de pessoas. Além disso, entender profundamente o direcionamento estratégico da organização. O que é a Takeda em 2025? É preciso saber fazer essa leitura, esse entendimento que é ditado pelo board da organização, e saber conduzir a companhia para estar aderente a 2025”, diz ele, que acabou de dar o chute inicial no programa Digital Transformation, para discutir questões, entre outras, como integrar jovens talentos do mundo digital a uma empresa com processos tão estruturados. A Takeda está presente em 70 países, tem 31 mil colaboradores, investe cerca de 20% (US$ 3 bilhões) de seu faturamento em pesquisas e é uma das dez maiores do Brasil. Antes, Marek passou pela Organon International, nos EUA, e no Grupo AkzoNobel. É formado em administração e tem cursos de MBA no Brasil e exterior. A seguir, trechos da conversa.
Ambição e gente Eu gosto de desafios. Acho que todo executivo tem sempre aquela ambição de carreira, de ter momentos de repensar estrategicamente a empresa, o portfólio que tem de gerenciar, reestruturar funções. E, para isso, precisa lidar com pessoas. O que eu aprendi ao longo da minha carreira, ao longo desses 25 anos, é que você precisa ter boas pessoas, com alto nível de competência, engajamento. E saber motivá-las, porque não se faz absolutamente nada sozinho. É preciso ter gente que saiba pensar, repensar, desafiar.
Decisão Tomada de decisão com pessoas motivadas e engajadas dá certo grau de certeza de que você está tomando a decisão correta, o alinhamento estratégico correto. Então, a nossa missão como líder, e aí não é so- mente o presidente, mas toda a diretoria executiva, é envolver pessoas, engajar pessoas, trazer mensagens positivas.
Engajamento e transparência O que é engajar e motivar pessoas? É trazer transparência, ser íntegro, formar times. Efetivamente, vivemos isso na Takeda. Nós temos o chamado Takedaísmo, que nada mais é que um conjunto de certos valores que a empresa aplica e, consequentemente, está inerente a cada um de nós como executivos, prestadores de serviços, colaboradores da empresa. Não se vai deixar de ser íntegro, honesto, transparente no seu dia a dia porque você está na companhia. Muito pelo contrário, você vive isso. E, ao viver isso, fica muito mais fácil replicar dentro da organização.
Choque Um dos grandes desafios que vivi foi na Organon, nos Estados Unidos. A empresa havia tomado a decisão de ser listada na Bolsa de Valores, e trabalhamos fortemente para que isso ocorresse. Um ano e meio de trabalho com bancos de investimentos. Eis que de repente, a matriz recebe uma ligação de uma grande empresa e resolve vender a organização. E isso ocorreu em praticamente três, quatro dias, úteis. E já havia um plano preparado, estruturado, e você se pergunta: qual vai ser o próximo passo? Não somente da empresa, mas da sua carreira. Você é um ser humano e você pensa também em você, no seu time. Tem de ter maturidade, paciência, entendimento do motivo de tal decisão. Isso foi um movimento que ocorreu na minha vida em 2007, mas foi um dos que mais me trouxeram aprendizado, um grande aprendizado.
Fusões e aquisições Nesses meus 25 anos de profissão, eu aprendi bastante. Tive muitas oportunidades de comprar ( empresas), agregar valor, desinvestir organizações, ativos, formar times – isso é muito gostoso. E com certeza aumenta o valor de sua experiência. Amplia o seu conhecimento, suas capacidades, e quando você vai discutir com uma outra companhia a possibilidade de uma unificação de negócios, ele sabe o quão experiente você é, já pelo próprio linguajar. E quanto mais você vivencia isso, você sabe que o mundo é global. As empresas buscam cada vez mais sinergias, de portfólio, de plantas fabris, etc. Isso faz com que cada vez mais você possa trazer valor para quando você vai para uma outra organização, ou até mesmo dentro da organização é possível maximizar esse valor.
Carreira Quando você ingressa numa multinacional, as perspectivas são muito mais amplas do que atuar apenas no Brasil. Não que atuar no Brasil não seja interessante, é muito interessante, mas quando você passa a ser um presidente regional, você obviamente aspira a outras regiões, outras culturas, outras dinâmicas, outros portfólios. Assim sendo, óbvio que eu também vejo perspectivas bastante interessantes, porque a própria empresa abre essas portas, ela dá essas possibilidades. E não somente limitada à posição de alto nível de gestão. Temos aqui desde analistas, coordenadores, gestores, gerentes que hoje ou estão trabalhando em Dubai, onde temos um setor para a região do Oriente Médio, trabalhando lá. Também há brasileiros trabalhando em Cingapura, em Zurique (Suíça) – a empresa dá a possibilidade.