O Estado de S. Paulo

EUA minimizam risco de contágio por zika no Rio

Centro de Controle e Prevenção de Doenças garante que a chance de transmissã­o da doença nos Jogos é muito baixa

- Cláudia Trevisan

O número de estrangeir­os que irão ao Brasil durante os Jogos representa apenas 0,25% do total de pessoas que se deslocarão por avião durante o ano para e entre regiões afetadas pela zika. Isso significa que mesmo em um hipotético cancelamen­to da Olimpíada, ainda haveria 99,75% de chances de transmissã­o do vírus por viagens internacio­nais.

Os dados foram calculados pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), o organismo do governo dos EUA res- ponsável pelo monitorame­nto e combate à zika. “O número de visitantes que o Brasil receberá representa proporção baixa do total de viajantes”, disse Ardath Grills, da Divisão de Migração Global e Quarentena do CDC.

Além disso, dados históricos de infecção de dengue, transmitid­a pelo mesmo mosquito da zika, indicam redução significat­iva dos casos nos meses de inverno. “O risco de transmissã­o de zika durante a Olimpíada é muito baixo”, observou Grills. Diante desse cenário, o CDC concluiu que não são necessário­s o adiamento ou mudança do local da Olimpíada.

A ameaça da zika não impedirá Alana Nichols de participar dos Jogos Paralímpic­os em setembro. “Sei que o Comitê Olímpico dos EUA tomará conta de nós. Também não estou planejando engravidar no futuro próximo.” Mas a atleta perguntou à repórter se há informa- ções sobre o período em que o vírus permanece no organismo após uma pessoa ser infectada.

A pergunta de Alana reflete a incerteza provocada pelo desconheci­mento de muitos dos impactos de longo prazo da zika. Apesar das dúvidas, ela vai ao Brasil, como quase todos os atletas americanos. A Olimpíada e a Paralimpía­da são o topo de suas carreiras e só ocorrem de quatro em quatro anos.

Vencedora de medalhas de ouro nos Jogos de 1976 e 1980, a ginasta aposentada Nadia Comaneci estará no Rio para atuar como comentaris­ta. Aos 54 anos, ela disse não estar preocupada com o vírus zika. “Não vi nenhum at l et a realmente apreensivo com isso. Se estiverem preocupado­s, eles usarão repelente”, disse Nadia. “Muitos que competirão neste ano não conseguirã­o fazer o mesmo em quatro anos. É uma oportunida­de única.”

O nadador Andrew Gemmell, de 25 anos, participou dos Jogos de Londres e espera se qualificar para competir no Brasil. “Zika é algo que eu não posso controlar. Esperamos quatro anos para competir nesse palco. O que mais podemos esperar como atletas?”, perguntou Gemmell, que não é casado nem tem filhos.

Por enquanto, o único atleta americano que desistiu de participar da Olimpíada por causa da zika foi o ciclista Tejay van Garderen, cuja mulher está grávida. Em fevereiro, a goleira Hope Solo disse que se os Jogos ocorressem naquele momento, ela não iria. Até agora, ela não anunciou sua decisão final.

Vencedora de medalhas em quatro Olimpíadas, Jackie Joyner-Kersee disse que os atletas tomarão as precauções necessária­s contra a zika. “Não acredito que o Comitê Olímpico Internacio­nal ou o Comitê Olímpico dos Estados Unidos colocariam nossos atletas em risco.”

Diretor da Divisão de Ética Médica da Universida­de de Nova York, Arthur Caplan foi um dos organizado­res da carta que 150 cientistas enviaram no mês passado à Organizaçã­o Mundial de Saúde (OMS) pedindo o adiamento ou transferên­cia dos Jogos. Caplan considera improvável que isso ocorra, mas defendeu discussão transparen­te do tema. “Assim, todos poderão estar consciente­s do que sabemos e não sabemos sobre o vírus.”

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO

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