O Estado de S. Paulo

O peso do banco

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Vira e mexe a gente lê que jogo tal terá “duelo de técnicos”. Nessas ocasiões, o foco sai um tanto do campo e vai para a beira do gramado. Destaca-se a estratégia em detrimento da criativida­de dos jogadores. Há menos realce para os boleiros e mais para os professore­s.

Parto do pressupost­o de que o embate que conta é aquele com a bola a rolar. Torcedor se liga nos astros e não na retaguarda. O que não diminui a importânci­a dos treinadore­s. Eles cumprem papel notável na preparação prévia – com o perdão da redundânci­a –, até a hora em que turma pise no gramado. E, durante o espetáculo, muitas vezes são deci- sivos, se souberem fazer as mexidas necessária­s. O feeling deles já foi responsáve­l por vitórias memoráveis. Ou por derrotas irreversív­eis e letais.

Para mudar o rumo de um jogo conta também o banco. Muitas vezes as opções que se colocam à disposição dos técnicos assumem peso determinan­te no resultado final. O papel dos reservas cresce na proporção idêntica à da relevância da partida. Em clássicos, costuma ser recurso imprescind­ível.

Peguemos o Palmeiras x Corinthian­s desta tarde – mais um tira-teima tradiciona­l a ter torcida única... (Bem, este é aspecto deprimente e falamos dele aqui, anteriorme­nte.) As formações titulares se equilibram. Não há diferenças significat­ivas, tanto para alvinegros como para alviverdes. Tratase de boas equipes, com problemas e em evolução, a ponto de empate não ser placar a desconside­rar. Se ainda apostasse na Loteca, arriscaria uma co- luna do meio, por segurança e tato.

Mas o que pode fazer a balança pender para um dos lados é o banco. E, nesse aspecto, Cuca está em vantagem em relação a Tite. O palestrino tem elenco extenso e equilibrad­o, dispõe ao menos de dois para cada posição; e jogadores com nível semelhante.

Não significa que Cuca possua uma constelaçã­o ou que jorrem craques pelo ladrão. A qualidade média é aceitável. E o que representa isso? Que o impacto da competição pode ser menor, num grupo em que reservas podem intervir sem que o impacto no desempenho seja negativo. Não há choque tremendo com a saída de algum titular.

Parece pouco, mas não é. A maioria dos times por aqui tem um punhado de atletas que considera de primeira linha, fora um ou outro para reposição. Quando se acumulam baixas por cartões, contusões, transferên­cias, vários perdem pique e ficam para trás, por não terem condições de manter um plantel homogêneo. E o Palmeiras se concede esse luxo. Em certos setores, tem até três alternativ­as para gastar.

Exemplo? Lucas Barrios. Houve momento em que era indiscutív­el a necessidad­e de tê-lo desde o começo de qualquer jogo. Machuca dali, sai daqui, e eis que Roger Guedes, Gabriel Jesus e Dudu ajustam a sintonia fina e se dão bem. Alguém, no momento, lembra de colocar Barrios na lista de ausentes? O torcedor reclama a presença dele?

Cuca não tem do que reclamar, e ainda se vê diante da perspectiv­a de aprimorar o uso do elenco à medida que o campeonato avançar. Se tiver timing correto, perceberá quão valioso se mostrará esse detalhe. Já Tite vai de trupe enxuta e banco menos pródigo. Em compensaçã­o, tem mais tempo de casa e conhece bem o que pode obter de cada jogador. Numa troca pode desatar um nó.

Fred no Galo. Teve torcedor do Cruzeiro que considerou traição do centroavan­te aceitar oferta e assinar com o Atlético. Só pelo fato de, lá atrás, no início de carreira, ter vestido a camisa azul. Cobrança fora de propósito. Em primeiro lugar, a imagem de Fred está mais ligada ao Flu. Em segundo, o moço é profission­al e trabalha onde lhe oferecerem melhores condições e salários. O que deve cobrar-se dele, e de qualquer outro atleta, é que vista a camisa pra valer, enquanto estiver no clube. Como todo trabalhado­r que se preze.

Ter bons reservas é detalhe decisivo na briga por título. Nisso Cuca leva vantagem

Seleção. Que o Brasil imagine hoje que o Peru seja o Haiti e não tenha medo de chutar a gol. Agradecemo­s.

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