O Estado de S. Paulo

Base de Temer decide ir ao STF contra ‘acordão’

- Isabela Bonfim Eloísa Machado de Almeida

Em uma ação conjunta, a base do presidente Michel Temer no Senado decidiu protocolar ontem um recurso no Supremo Tribunal Federal contra o fatiamento da votação do impeachmen­t da ex-presidente Dilma Rousseff – que garantiu à petista o direito de ocupar cargos públicos. O documento, encabeçado pelo PSDB, será assinado pelo DEM, PPS e parte do PMDB, partido que registrou votação expressiva contra inabilitaç­ão de Dilma anteontem.

Além de abrandar a pena de Dilma, a polêmica votação abriu um precedente que pode beneficiar o deputado afastado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), alvo de pedido de cassação. Futurament­e, outros parlamenta­res poderão ser beneficiad­os.

Anteontem, o PSDB afirmou que foi surpreendi­do com o fatiamento da votação do impeachmen­t e informou que iria questionar a decisão no Supremo. Mas, depois, os tucanos recuaram, com medo de que a ação anulasse todo o julgamento. Ontem, porém, o partido voltou atrás após a equipe jurídica entender que era possível recorrer apenas da segunda votação.

“Ontem ( anteontem) o PSDB queria virar essa página e contribuir para a estabilida­de do País. Mas verificamo­s que, com um pedido de revisão parcial da votação, poderemos rever o que acreditamo­s que foi equivocado”, afirmou o líder da bancada no Senado, Cássio Cunha Lima (PB).

De acordo com o tucano, que teve seu mandato de governador cassado em 2009, dois fatos contribuír­am para esse posicionam­ento. Primeiro, o recurso protocolad­o pelo PT no Supremo, no qual tenta anular todo o processo. Depois, o tom “provocativ­o” da ex-presidente no pronunciam­ento que fez um dia antes de ser cassada.

O presidente do PMDB, Romero Jucá (RR), aderiu ao recurso em uma ação unilateral, após receber um telefonema do presidente do PSDB, Aécio Neves (MG). Jucá não consultou a bancada peemedebis­ta no Senado. Dos 19 senadores do partido, 10 votaram a favor da manutenção dos direitos de Dilma e dois se abstiveram, posição que também favorece a presidente. Apenas Jucá teria resistido a defender os direitos da presidente.

Até ontem, seis mandados de segurança já haviam sido protocolad­os no Supremo com pedido para anular o fatiamento – entre eles um assinado pelo senador Alvaro Dias (PVPR), e outro pelo PSL. Os outros foram protocolad­os por en-

tidades e cidadãos. Um dos mandados é subscrito pelo empresário Luiz Philippe de Orleans e Bragança, membro da família real brasileira.

A decisão de Jucá é tomada no momento em que as relações com o PSDB estão desgastada­s, embora os tucanos afirmem que estão firmes na base do governo. Apesar da intenção de não ampliar as divergênci­as entre os dois partidos, senadores do PSDB não escondem a insatisfaç­ão com a decisão dos peemedebis­tas de promover

Cientes da possibilid­ade de ganhar e acabar ajudando Dilma, os senadores pedem a anulação apenas da segunda votação, sugerindo que o Supremo aplique, ele mesmo, a pena de inabilitaç­ão para exercício de função pública à Dilma, como consequênc­ia da cassação de seu mandato. Esse pedido tem ao menos dois problemas.

O primeiro, de ordem lógica, aponta que o resultado da votação sobre a perda do mandato poderia ser diferente se a mesma estivesse cumulada com a inabilitaç­ão para função pública, argumento reforçado pelo próprio resultado distinto entre as votações. O segundo problema é de ordem institucio­nal, demandando do Supremo a imposição de sua vontade sobre a dos senadores, que decidiram em plenário não aplicar a pena de inabilitaç­ão.

Por este viés, o Supremo estará julgando quão soberano é o Senado Federal nesse processo. Seja qual for o resultado, a defesa de Dilma vence: até uma decisão que altere o resultado da votação pode servir como a brecha para que o Supremo interfira no mérito do impeachmen­t.

um acordo para salvar os direitos de Dilma Rousseff.

‘Bola nas costas’. Enquanto os senadores do PMDB assumem com naturalida­de que no fim de semana anterior à votação a questão do fatiamento já era debatida na bancada, os tucanos se disseram surpresos com a decisão e criticaram o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que usou sua prerrogati­va de fala no julgamento para defender a manutenção dos direitos da presidente. “Não se faz política com bola nas costas”, disse Cássio Cunha Lima.

O próximo embate entre os dois partidos já está marcado: a votação dos projetos que concedem reajuste salarial para ministros do STF e para o procurador­geral da República. Parlamenta­res do PSDB têm se posicionad­o abertament­e contrários às propostas, enquanto peemedebis­tas trabalham para dar celeridade à votação. Para pôr um fim à questão, o PSDB quer que Temer se pronuncie e diga se o governo apoia ou não o projeto.

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