O Estado de S. Paulo

Advogado de Dilma e peemedebis­tas articulara­m acordo

Proposta foi feita por Cardozo e negociada por Renan e Kátia Abreu no PMDB; sondado, Michel Temer teria dado o aval ‘como jurista’

- Ricardo Brito /

O acordo que fatiou a pena da presidente cassada Dilma Rousseff surgiu de uma proposta feita por sua defesa há três semanas, negociado pelos senadores Renan Calheir o s ( PMDB- AL) e Kát i a Abreu (PMDB-TO), e quase naufragou por causa de um discurso inflamado de Lindbergh Farias (PT-RJ). O presidente Michel Temer teria dado aval “como jurista”.

Os peemedebis­tas foram fundamenta­is para a aprovação do fatiamento. Dos 17 senadores que votaram a favor do impeachmen­t, dez foram pela pena branda. Entre “contra” e “abstenções”, Dilma “virou” 19 votos. A proposta foi rejeitada por 42 votos a favor, 36 contra e três abstenções – eram necessário­s ao menos 54 votos.

A medida que permite a Dilma exercer função pública abre precedente para beneficiar políticos ameaçados de cassação, como o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

O Estado apurou que a proposta polêmica do impeachmen­t foi feita pelo advogado de Dilma, José Eduardo Cardozo. Lindbergh e o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), tinham ressalvas sobre sua eficácia, mas decidiram levá-la adiante após conversas com senadores de vários partidos.

O tradiciona­l almoço da bancada do PT de terça-feira, véspera do julgamento, serviu para discutir a proposta. A área técnica do partido iria se valer de uma resolução editada após reclamação feita pelo líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), em novembro do ano passado.

Para garantir direito à oposição de questionar projetos de Dilma, a Casa instituiu a obrigatori­edade de votar separadame­nte um requerimen­to de destaque apresentad­o por uma liderança partidária.

Costa apresentou o requerimen­to de destaque às 22h31 da terça-feira, enquanto Kátia e Renan já trabalhava­m nos bastidores. Renan havia recebido indicativo­s de que o ministro Ricardo Lewandowsk­i não faria oposição. A essa altura, o presidente já havia sido sondado e um senador peemedebis­ta revelou ao Estado que Temer, renomado constituci­onalista, deu seu aval “como jurista”.

Agora, interlocut­ores do Planalto afirmam que o governo sabia das conversas sobre a pro- posta, mas não da articulaçã­o preparada e programada. A separação da votação em duas partes, classifica­da de “absurda” e “inconstitu­cional” por Temer, teria pego o Planalto “completame­nte de surpresa”.

No dia do julgamento, as conversas se intensific­aram. Após abordar em plenário o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), Kátia disse a Cardozo que estava “ok”. Eunício, contrário ao pedido, absteve-se.

Risco. Minutos antes da votação, Lindbergh comparou Dilma a João Goulart, deposto pela ditadura militar. Ele citou a declaração de Tancredo Neves, líder do governo Goulart, de 2 de abril de 1964: “Canalhas! Canalhas! Canalhas!” Senadores aliados de Dilma que costuraram a estratégia se exasperara­m. Receavam que a fala fosse encarada como uma agressão. Perderam um voto, o do senador Sérgio Petecão (PSD-AC).

Apesar do voto perdido, a expresiden­te já havia angariado naquele momento apoio suficiente de aliados e defensores do impeachmen­t para preservar seus direitos.

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WILTON JUNIOR / ESTADÃO Solene. Cerimônia de posse da nova presidente do Superior Tribunal de Justiça, Laurita Vaz, reúne Rodrigo Maia ( esq.), Janot e Ricardo Lewandowsk­i ( dir.)
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GERALDO MAGELA/AGÊNCIA SENADO Alvo. Cristovam Buarque (PPS-DF), durante comissão

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