O Estado de S. Paulo

Rever prisão após 2ª instância afeta delações, diz Janot

Procurador-geral da República defende que Supremo mantenha entendimen­to fixado em fevereiro; julgamento de ações foi suspenso

- Isadora Peron

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, defendeu ontem que o Supremo Tribunal Federal (STF) mantenha o entendimen­to fixado em fevereiro, quando permitiu a execução de pena a partir de uma decisão judicial de segunda instância, ou seja, antes de se esgotarem todos os recursos possíveis da defesa. Para ele, uma alteração nessa jurisprudê­ncia poderia ter impacto nos acordos de delação premiada.

O caso começou a ser analisado pelo plenário do STF ontem, mas a sessão foi suspensa para que os ministros pudessem comparecer à posse da nova presidente do Superior Tribunal de Justiça, Laurita Vaz. O julgamento deve ser retomado na próxima semana.

“Para o Ministério Público, esse julgamento é tão importante quanto o julgamento no Supremo que definiu o poder investigat­ório do Ministério Público. Eu acho que isso influencia­rá com certeza em vários processos de colaboraçã­o premiada em curso ou que virão em todas as investigaç­ões do Ministério Público, seja federal, seja dos Estados”, disse Janot ao chegar para a sessão da Corte.

Um dos temores do Ministé- ‘Influência’ rio Público é de que uma mudança no entendimen­to esvazie as investigaç­ões, pois isso desestimul­aria condenados que temem iniciar o cumpriment­o da pena e por isso firmaram acordos para colaborar com os procurador­es.

Presunção da inocência. As duas ações que começaram a ser julgadas ontem foram apresentad­as pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e pelo Partido Ecológico Nacional. O argumento central de ambas é que a prisão, enquanto houver direito a recurso, viola o princípio da presunção de inocência.

Apenas o relator das ações, ministro Marco Aurélio Mello, pronunciou o seu voto ontem. Para ele, não é constituci­onal aplicar uma pena antes de o processo transitar em julgado, ou seja, antes que se esgotem to- das as possibilid­ades de recurso que o condenado tem direito.

Em fevereiro, o Supremo decidiu por 7 a 4 permitir que as penas passassem a ser executadas já na segunda instância.

O entendimen­to anterior era o de que o cumpriment­o da pena começaria após o chamado trânsito em julgado da condenação, podendo chegar aos tribunais superiores. Foram vencidos nessa discussão o próprio Marco Aurélio, Rosa Weber, Celso de Mello e o presidente do STF, Ricardo Lewandowsk­i.

Como se trata de uma decisão tomada em habeas corpus, ela não tem repercussã­o geral, e os ministros vencidos continuara­m dando sentenças contrárias a ela.

Antes do voto do relator, 13 advogados se revezaram na tribuna para defender que eram contra a aplicação da pena após a decisão de segunda instância. Alguns deles, como Antonio Carlos Almeida Castro, o Kakay, representa­m implicados na Lava Jato, como os senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Edison Lobão (PMDB-MA).

Em sua fala, Kakay defendeu que essa mudança é uma questão de “justiça” e não vai beneficiar diretament­e nenhum dos seus clientes investigad­os por envolvimen­to no esquema de corrupção da Petrobrás.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Posição. Para Marco Aurélio, não é constituci­onal aplicar pena antes de esgotar recursos

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