O Estado de S. Paulo

Alto comparecim­ento sela unidade de ocasião da oposição

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AMesa da Unidade Democrátic­a (MUD) conseguiu novamente encher as avenidas de Caracas com uma marcha significat­iva contra o chavismo e, especialme­nte, contra o relógio. Enquanto buscam um referendo revogatóri­o do mandato de Nicolás Maduro, os líderes da coalizão opositora precisam levar em conta a janela relativame­nte estreita para conseguir uma nova eleição – pela Constituiç­ão venezuelan­a, apenas uma deposição ainda este ano provocaria tal efeito. De 2017 em diante, Maduro seria substituíd­o por seu vice – o atual é Aristóbulo Istúriz.

O comparecim­ento elevado da militância, apesar das ameaças de repressão repetidas pelo presidente e de um decreto pro- mulgado no ano passado autorizand­o as Forças Armadas a utilizarem munição real contra manifestan­tes, pesa a favor dos opositores. Por outro lado, a presença de um número elevado de pessoas no ato impõe à MUD a necessidad­e de encarar um de seus maiores problemas: a desunião interna.

Quando atos contra o chavismo foram convocados isoladamen­te por frações da coalizão – como a liderada por María Corina Machado –, o comparecim­ento não foi significat­ivo. Como termômetro do equilíbrio interno da aliança, atos convocados por Henrique Capriles, candidato derrotado à presidênci­a em 2012, por Chávez, e 2013, por Maduro, conseguira­m adesão mais alta. Com as baterias do governo se voltando contra Leopoldo López, em 2014, durante o fracassado movimento conhecido como La Salida, outra frente de convocação se abriu.

A prisão de López aumentou seu peso político dentro da liderança da coalizão – sua mulher, Lilian Tintori, afirmou durante uma visita a São Paulo que o marido está pronto e disposto a servir ao país. Ela respondia a uma pergunta sobre a possibilid­ade de, fora da cadeia, López concorrer com Capriles para ser o nome da MUD em uma hipotética eleição presidenci­al.

Após a vitória esmagadora da coalizão na eleição parlamenta­r de dezembro, menos de 12 horas se passaram até que praticamen­te todos os líderes de correntes internas da MUD se atacassem velada ou abertament­e. No comando da Assembleia Nacional, o veterano Henry Ramos Allup também tem pretensões de liderar o país no pós-chavismo. Com uma trama densa e complexa de desejos políticos divergente­s, a MUD teve ontem uma demonstraç­ão de como será crucial superar a cisão interna para conseguir, efetivamen­te, mobilizar a população em meio à profunda crise venezuelan­a. Sem um projeto comum mínimo, a oposição se arrisca a perder rapidament­e seu cacife político na hipótese de conseguir, finalmente, revogar o mandato de Maduro e disputar nova eleição.

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