O Estado de S. Paulo

Pai de Aylan lamenta crise de refugiados

Um ano após a morte do menino em um naufrágio, sírio diz que nada foi feito para evitar novas fatalidade­s na travessia do Mediterrân­eo

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O pai do pequeno sírio Aylan Kurdi, encontrado morto em uma praia turca há um ano, lamentou que refugiados continuem morrendo no mar sem que algo seja feito para evitar as tragédias. A foto do corpo de Aylan comoveu o mundo e se transformo­u em um dos símbolos da crise dos refugiados na Europa.

“Depois da morte da minha família, os políticos afirmaram: Nunca mais”, lembrou Abdullah Kurdi em entrevista ao jornal alemão Bild na quarta-feira. Além de Aylan, de 3 anos, Kurdi perdeu a mulher Rehab, de 35 anos, e o filho mais velho Galip, de 5 anos. Todos morreram afogados na costa turca depois do naufrágio da embarcação em que estavam.

Aylan estava com a família em um bote de plástico e o destino final era o Canadá, onde vivia uma tia das crianças. Para isso, era preciso cruzar o Mar Mediterrân­eo.

“Todos queriam fazer algo de- pois da foto que tanto comoveu”, disse Kurdi, de 41 anos, ao recordar a imagem do filho morto na praia de Bodrum.

“Mas o que acontece agora? As mortes continuam e ninguém faz nada”, completou Kurdi. Sua família foi enterrada em Kobani, sua cidade-natal na Síria, próxima à fronteira com a Turquia.

Doze horas após a divulgação da imagem de Aylan em Bodrum, o escritório da ONU em Genebra para Refugiados recebeu 100 mil em doações espontânea­s, mostrando o alcance da foto. O sírio não lamenta a divulgação da foto do filho mais novo. “Uma coisa assim deve ser mostrada para que as pessoas vejam claramente o que acontece. O horror na Síria tem de terminar. As tragédias do exílio também.”

Em dezembro do ano passado, Kurdi havia feito um pedido aos governos europeus pela abertura das fronteiras aos milhares de refugiados que fogem da guerra síria.

Atualmente, o pai de Aylan mora em Erbil, no Curdistão iraquiano.

Repetição. A crise de refugiados que fogem da guerra síria não diminuiu desde o ano passado. Embarcaçõe­s continuam tentando cruzar o Mediterrân­eo e muitas crianças são resgatadas no caminho.

Nos últimos seis dias, cinco operações de resgate realizadas pela Itália resultaram no resgate de 16 mil refugiados. Ontem, 1.725 pessoas foram resgatadas pela Guarda Costeira italiana no Mediterrân­eo. O número de casos deve aumentar em razão da época do ano. Com o verão na Europa, o mar fica menos agitado e mais pessoas arriscam suas vidas em embarcaçõe­s clandestin­as.

A situação é complicada em toda a Europa, não só na Itália. Ontem, a fragata espanhola Rainha Sofia desembarco­u no porto italiano de Salerno com 1.048 refugiados à bordo.

Imagem. A tragédia da guerra síria voltou a ficar evidente em uma fotografia neste ano, mas dessa vez no rosto de um menino de cinco anos ferido em um bombardeio em Alepo. Omran foi fotografad­o dentro de uma ambulância com o rosto coberto de sangue e fuligem após ser resgatado.

“Omran estava lá sem voz, com o olhar perdido. É como se não compreende­sse muito bem o que tinha acabado de acontecer”, contou o fotógrafo Mahmud Rslan, autor da imagem, que mais uma vez comoveu o mundo. Um vídeo do mesmo momento mostra o menino limpando o rosto com as próprias mãos e, em seguida, tentando limpá-las em seu assento na ambulância.

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NILUFER DEMIR/AFP-2/9/2015 Retrato do drama. Corpo de Aylan é resgatado em praia turca; imagem chocou o mundo

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