O Estado de S. Paulo

Como a Rússia se beneficia com o WikiLeaks

-

dos Unidos, mostrando os bastidores das guerras do Afeganistã­o e Iraque e manobras diplomátic­as do país, às vezes, cínicas, em todo o mundo.

No entanto, uma ausência notável nas críticas de Assange é uma outra superpotên­cia, a Rússia, e seu presidente, Vladimir Putin, que dificilmen­te se enquadrari­am no ideal de transparên­cia de Assange. O governo de Putin ataca duramente a dissidênci­a – espionando, prendendo e, segundo críticos, às vezes assassinan­do opositores – enquanto consolida o controle da mídia e da internet.

Agora, Assange e WikiLeaks estão de volta aos holofotes, sa- cudindo o panorama internacio­nal com novas revelações e a promessa de que vem mais por aí.

Em julho, o WikiLeaks divulgou 20 mil e-mails do Comitê Nacional Democrata. Funcionári­os americanos acreditam, com alto grau de probabilid­ade, que o material do Partido Democrata tenha sido hackeado pelo governo russo, suspeitand­o o mesmo em relação aos códigos. Isso leva a uma indagação: terá o WikiLeaks se tornado um veículo para “lavar” material compromete­dor reunido pela espionagem russa? E, ainda: qual a relação entre Assange e o Kremlin de Putin?

Essas perguntas ganham im- portância ao sugerirem o proeminent­e papel da Rússia na corrida presidenci­al americana. Putin, que entrou em atrito várias vezes com Hillary quando ela era secretária de Estado, elogiou publicamen­te Trump – que devolveu o cumpriment­o propondo relações mais próximas com a Rússia e falando bem da anexação da Crimeia por Putin.

No início do WikiLeaks, Assange informou que estava motivado pelo desejo de usar “a criptograf­ia para proteger os direitos humanos”, com foque em governos autoritári­os como o da Rússia.

Mas um exame do New York Times das atividades do Wiki- Leaks durante os anos de Assange no exílio constatou um quadro diferente: seja por convicção, conveniênc­ia ou coincidênc­ia, os vazamentos do WikiLeaks, ao lado de muitas declaraçõe­s de Assange, têm com frequência favorecido a Rússia em detrimento do Ocidente.

Ao NYT, Assange disse que Hillary e os democratas estavam “brandindo em relação à Rússia uma histeria neomacarth­ista”. Não há “provas concretas” de que o material que o WikiLeaks publica venha de agências de informaçõe­s, afirmou ele.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil