O Estado de S. Paulo

Santas Casas poderão pagar dívida em 10 anos

Além de prazo dobrado, entidades terão 6 meses de carência; hospitais devem R$ 22 bi

- Lígia Formenti

Santas Casas e hospitais filantrópi­cos terão, a partir de agora, o dobro de prazo para quitar dívidas. Acordo anunciado pelo ministro da Saúde, Ricardo Barros, amplia de cinco para dez anos o prazo para operações de crédito com a Caixa Econômica Federal serem liquidadas. As instituiçõ­es têm, juntas, dívidas estimadas em R$ 22 bilhões.

Além de dobrar o prazo para pagamento, Santas Casas terão seis meses de carência para pagar os empréstimo­s nesta nova linha de crédito. A medida faz parte de um “pacote de bondades” divulgado pelo ministro em Congresso de Santas Casas e Hospitais Filantrópi­cos.

A pasta anunciou também a liberação de R$ 371 milhões para credenciam­ento de hospitais filantrópi­cos em 20 Estados e de R$ 141 milhões, procedente­s de emendas parlamenta­res que haviam sido estabeleci­das nos últimos dois anos e ainda não tinham sido pagas. Os recursos deverão ser liberados a partir de dezembro.

Foram alteradas também as regras para a análise da concessão do crédito. O novo formato torna mais fácil o acesso. A partir de agora, o crédito pode ser equivalent­e a até 35% do faturament­o total da entidade. A porcentage­m, até a mudança da regra, estava limitada em 30%.

Quatro a cada dez internaçõe­s realizadas no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2015 foram feitas nas Santas Casas. Outro recurso considerad­o importante pelo ministro para tentar auxiliar o setor é a aprovação, no Congresso, de um projeto que cria um programa de crédito especial, com juros diferencia­dos para a instituiçã­o. Proposto pelo ministro de Relações Exteriores, José Serra, durante seu mandato como senador, o projeto prevê a criação de linhas de crédito especiais, com prazos de pagamento mais longos e juros menores.

O texto inicial propunha uma carência de 2 anos e juros de 0,5% ao ano. Ontem, o governo afirmou que trabalhará pela aprovação da proposta. Segundo o ministro, o projeto tem as bênçãos do presidente Michel Temer.

Cargo. Barros ampliou nas duas últimas semanas a divulgação de medidas e balanços para reforçar a imagem de bom gestor. Com Temer assumindo o cargo, aumentam as especulaçõ­es sobre uma troca de nomes no Ministério da Saúde. O mi- nistro, indicado pelo PP, tem apostado todas fichas para se manter no cargo.

Ontem, ele apresentou um balanço sobre seus cem dias de governo a uma plateia formada por representa­ntes de Santas Casas e secretário­s estaduais e municipais de Saúde. Garantiu ter reduzido custos, cortado cargos, aumentado a eficiência da gestão. Questionad­o se seria mantido no cargo, Barros respondeu que continuari­a trabalhand­o, “e bem”.

Um dos pontos destacados pelo ministro é o orçamento previsto para sua pasta em 2017. A proposta é que o ministério receba R$ 120 bilhões. Desse total, R$ 5 bilhões seriam de emendas parlamenta­res. Segundo ele, o setor receberá R$ 1,7 bilhão a mais que o mínimo constituci­onal, de R$ 113 bilhões. Barros anunciou o valor como uma vitória, diante da crise econômica no País. Ele argumentou que, embora mais recursos sejam bem-vindos, é importante trabalhar com a realidade. As operadoras de saúde vão defender que o chamado plano popular – proposto pelo ministro da Saúde, Ricardo Barros, para levar mais clientes para o setor suplementa­r – tenha cobertura igual à do Sistema Único de Saúde (SUS). Hoje, algumas terapias inovadoras, como medicament­os quimioterá­picos, são oferecidas somente pelos planos de saúde.

“Nossa proposta é que o rol de cobertura mínima definido pela ANS ( Agência Nacional de Saúde Suplementa­r) seja mantido, mas que ele siga as mesmas regras da Conitec ( Comissão de Incorporaç­ão de Tecnologia­s no SUS), que é quem define o que é coberto na rede pública”, disse ao Estado Pedro Ramos, diretor da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), durante congresso da entidade, realizado ontem em São Paulo.

A proposta do setor será levada ao grupo de trabalho que discute o modelo de plano popular a ser apresentad­o. A primeira reunião da comissão foi feita anteontem e contou com participan­tes das operadoras, hospitais, médicos e entidades de defesa do consumidor, além de membros do Ministério da Saúde e da ANS.

Retrocesso. Segundo Maria Inês Dolci, coordenado­ra institucio­nal da ProTeste, que participou da reunião de ontem, nenhuma proposta concreta foi feita, mas a sugestão de equiparaçã­o das coberturas do SUS e dos planos seria um “retrocesso”. “Precisamos esperar o que vai vir para avaliar melhor, mas consideram­os que o que já tem no rol é direito adquirido dos consumidor­es e isso não deve ser alterado”, disse.

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ELZA FIUZA/AGÊNCIA BRASIL Recursos. Barros buscará no Congresso aprovação de crédito especial com juro diferencia­do

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