O Estado de S. Paulo

EVIDÊNCIAS DE VIDA NA TERRA TÊM 3,7 BI DE ANOS

Cientistas acham na Groenlândi­a fósseis 220 milhões de anos mais antigos que quaisquer outros

- Fábio de Castro

Um grupo de cientistas descobriu a mais antiga evidência física da vida no planeta em rochas de 3,7 bilhões de anos, na Groenlândi­a. Os novos fósseis são 220 milhões de anos mais antigos do que quaisquer outros já descoberto­s.

De acordo com os autores do estudo, publicado ontem na revista Nature, foram encontrada­s nas rochas estruturas conhecidas como estromatól­itos – formações em camadas produzidas pela atividade de micróbios.

O grupo de pesquisado­res australian­os e britânicos foi coordenado por Allen Nutman, da Universida­de de Wollongong, na Austrália. A descoberta foi feita na plataforma geológica conhecida como cinturão de Isua, no Sudoeste da Groenlândi­a. Os mais antigos estromatól­itos até agora haviam sido encontrado­s no Oeste da Austrália e tinham cerca de 3,5 bilhões de anos.

Os cientistas encontrara­m estromatól­itos fósseis que tinham de um a quatro centímetro­s de altura. Segundo Nutman, a descoberta sugere que a vida surgiu há mais de 4 bilhões de anos. Essa conclusão seria coerente com análises genéticas feitas anteriorme­nte com a técnica conhecida como “reló- gio molecular”, que permite calcular o tempo de divergênci­a entre duas espécies a partir do número de diferenças moleculare­s presentes no DNA.

Segundo os cientistas, várias evidências indicam que os estromatól­itos encontrado­s foram mesmo formados por organismos vivos – incluindo detalhes da composição química, estruturas sedimentár­ias e a caracterís­tica dos minerais nas rochas.

De acordo com Nutman, além de representa­r um novo ponto de referência sobre a mais antiga prova de vida na Terra, a descoberta pode ajudar os cientistas a investigar se a vida já esteve presente em outros planetas no passado.

“Há 3,7 bilhões de anos, Marte provavelme­nte ainda era úmi- do, até mesmo com oceanos. Se a vida se desenvolve­u tão rapidament­e na Terra, permitindo a formação de coisas como estes estromatól­itos, seria mais fácil detectar sinais de vida em Marte. Em vez de estudar unicamente a química do planeta, poderíamos ver nas imagens de Marte coisas como os estromatól­itos”, disse Nutman, de acordo com a agência France Presse.

Para a geóloga Abigail Allwood, da Nasa, autora de um artigo sobre o estudo publicado na própria Nature, a descoberta tem “importânci­a enorme”. “Há 3,7 bilhões de anos, a superfície da Terra, que estava em formação, era tumultuosa, bombardead­a por asteroides. Se a vida encontrou ali um ponto de apoio e deixou marcas tão fortes que seus vestígios existem ainda hoje, então a vida não é uma coisa muito relutante e improvável. Dê meia oportunida­de e ela ocorrerá”, disse.

Segundo Allwood, com a descoberta, na Groenlândi­a, torna-se mais plausível que Marte tenha abrigado vida no passado. “Na época em que as rochas de Isua estavam se formando, Marte não era muito diferente da Terra hoje”, declarou a geóloga.

Segundo ela, a Nasa encontrou em Marte pedras formadas em corpos de água semelhante­s aos da Terra. “A questão é saber se essas águas secaram antes que a vida tivesse os ingredient­es necessário­s para surgir. Consideran­do que a era dos últimos bombardeio­s pesados de asteroides no Sistema Solar terminaram 100 milhões de anos antes – alguns instantes, em termos geológicos –, teria havido tempo suficiente para que a vida aparecesse? Se as estruturas de Isua forem mesmo originadas por micróbios, a r e s p o s t a é s i m”, d i s s e Allwood.

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NATURE Vestígios. As rochas de 3,7 bilhões de anos têm marcas deixadas pela ação de micróbios

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