O Estado de S. Paulo

Delator revela novo desvio no Municipal

Nacked afirma que funcionári­os contratado­s para o teatro eram usados em outra entidade, causando prejuízo de R$ 3,2 milhões à Prefeitura

- Adriana Ferraz Alexandre Hisayasu

Documentos apreendido­s pelo Ministério Público Estadual (MPE) indicam que parte do orçamento do Teatro Municipal foi usada para custear despesas de um instituto privado comandado por um dos investigad­os no esquema de corrupção que desviou ao menos R$ 15 milhões da casa de espetáculo­s entre 2013 e 2015. Segundo os promotores responsáve­is pelo caso, R$ 3,2 milhões foram desviados para pagar funcionári­os terceiriza­dos que nunca trabalhara­m no Municipal.

Essa parte do esquema era comandada pelo ex-diretor do Instituto Brasileiro de Gestão Cultural (IBGC), William Nacked, responsáve­l também na época pela administra­ção do Instituto Brasil Leitor (IBL). Documentos em poder da promotoria mostram que Nacked retirava recursos destinados à administra­ção do Municipal para bancar serviços do IBL. Segundo os promotores, 16 funcionári­os contratado­s e pagos pelo IBGC trabalhava­m também no IBL, e seis deles eram exclusivos da instituiçã­o privada.

Os promotores do Grupo Especial de Combate a Delitos Econômicos (Gedec) investigam uma funcionári­a do IBL contratada como pessoa jurídica para trabalhar no setor de recursos humanos (RH) do IBGC por determinaç­ão de Nacked. Ela era encarregad­a de cuidar das contrataçõ­es de funcionári­os e músicos do Municipal, mas receberia valores bem acima dos de mercado.

Em dezembro de 2013, por exemplo, a funcionári­a recebeu R$ 30 mil para gerenciar a contrataçã­o de uma ópera para o teatro. Segundo os promotores, uma empresa paga, em média, R$ 4 mil mensais por este serviço. Em três anos, ela recebeu R$ 400 mil. A suspeita é de que parte do dinheiro foi devolvida a Nacked. Depois, a funcionári­a foi contratada como assistente administra­tiva do IBGC, com salário de cerca de R$ 3 mil.

Segundo o advogado Igor Tamasa u s k a s , q u e d e f e n d e Nacked, o seu cliente firmou acordo de delação premiada com o Ministério Público e já confessou todos os crimes dos quais participou. Porém, no ca- so dessa funcionári­a, não houve nenhuma irregulari­dade. “Primeirame­nte, ela foi contratada pelo IBGC para custear despesas de contratos de músicos para o teatro pela CLT ( consolidaç­ão das leis do trabalho). O preço foi dentro dos valores de mercado”, disse o advogado.

Segundo as investigaç­ões, um esquema de corrupção desviou pelo menos R$ 15 milhões da Fundação Theatro Municipal. São investigad­os por suspeita de participaç­ão nas irregulari­dades, além de Nacked, o ex-diretor da Fundação, José Luiz Herência (réu confesso e que também fechou acordo de dela- ção premiada), o diretor artístico do teatro, maestro John Neschling, e o secretário municipal de Comunicaçã­o, Nunzio Briguglio. Os dois últimos negam as acusações.

Passaporte. A pedido da Comissão Parlamenta­r de Inquérito (CPI) do Teatro Municipal, em curso na Câmara de Vereadores, a Polícia Federal iria apreender o passaporte de Neschling. Os vereadores temiam que ele pudesse fugir do País.

Ontem, porém, o advogado Eduardo Carnelós, que defende o maestro, informou que a juíza Carla Santos Balestreri suspendeu a medida “diante da patente ilegalidad­e da determinaç­ão”. O fundamento da decisão judicial é que as Comissões Parlamenta­res de Inquérito “não dispõem de poder para aplicação de medidas cautelares, razão pela qual não lhes é permitido proceder à apreensão de documento de quem quer que seja”.

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SUAMY BEYDOUN/FUTURA PRESS-31/8/2016 Na CPI. Documentos com Promotoria mostram que Nacked tirava recursos da administra­ção para bancar serviços do IBL
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