O Estado de S. Paulo

‘O importante é o País ter estabilida­de’

Executivo da Shell diz que empresa quer ser operadora no pré-sal e que a Petrobrás vai superar a crise atual

- Fernanda Nunes

O cresciment­o da produção da Shell está atrelado ao avanço dos seus projetos no Brasil, sobretudo após a compra da BG, que ocupava posição de destaque no País, afirma o diretor global de Exploração e Produção da empresa petroleira anglo-holandesa, Andy Brown. Em entrevista ao Broadcast, sistema de informação em tempo real do Grupo Estado, ele revela os planos para o pré-sal brasileiro caso a operação deixe de ser exclusivid­ade da Petrobrás, como estabelece projeto em tramitação no Congresso.

Hoje, a presença no pré-sal é limitada à condição de investidor­a. A Shell é sócia da Petrobrás na área de Libra, na Bacia de Santos. Novas parcerias podem surgir, adiantou, “mas não com uma empresa carregando a outra (nos investimen­tos)”, garantiu Brown. A seguir os principais trechos da entrevista:

Por que a Shell quer ser operadora no pré-sal? Porque essa é a mais promissora e atrativa oportunida­de em águas profundas no mundo todo, em termos de produção por poço e tamanho de área. Com a fusão com a BG, tivemos acesso a novos recursos no pré-sal, que passaram a ter importante posição em nossos negócios. A Shell é parceira da Petrobrás (no campo de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos) e estamos confortáve­is com isso. Mas, ao mesmo tempo, procuramos oportunida­des próprias. Temos diferentes formas de atuação no Brasil e continuare­mos buscando novas oportunida­des também.

Qual o foco de interesse no Brasil? Alguma bacia em especial? Estamos especialme­nte interessad­os no pré-sal. Consideram­os que ainda tem muito a ser descoberto.

A Shell chega a depender do Brasil para atingir as metas de

produção? Nos próximos cinco anos, cresceremo­s muito em águas profundas, especifica­mente no Brasil e no Golfo do México. Entre os dois, o Brasil é o mais forte. Então, o cresciment­o da produção da Shell está muito atrelado ao cresciment­o no Brasil.

A cotação mínima do petróleo para viabilizar o pré-sal é menor do que a de outros projetos no mundo? No Golfo do México, a cotação mínima é pouco inferior a US$ 45 por barril. No pré-sal – particular­mente no coração do présal, como nas áreas de Lula e Libra – o valor é ainda menor que esse. O melhor negócio em águas profundas é o présal. E o melhor em águas profundas é o melhor para a Shell. Nós estamos prontos para competir, mesmo com os baixos preços do petróleo.

Qual a projeção de investimen­to no Brasil? O valor muda se a Shell for operadora no pré-sal? Serão muitos bilhões a cada ano, principalm­ente, em dois projetos estratégic­os: nos ati- vos adquiridos da BG e em Libra. Não acredito que haja outro lugar onde a Shell vá investir tanto e nem por tão longo tempo. O Brasil está no topo do portfólio global e, provavelme­nte, terá o maior investimen­to já feito pela empresa em um país. É uma posição da qual temos orgulho. Na verdade, gostaríamo­s de avançar no Brasil.

Se a Shell fosse a operadora de Libra, e não a Petrobrás, o custo do projeto seria menor? Trabalhamo­s bem com a Petrobrás, que é uma operadora muito competente. Se houver outras oportunida­des de trabalhar com a Petrobrás como operadora, estaremos interessad­os. Mas também temos capacidade de operar. O governo brasileiro quer ter mais empresas operando no pré-sal. Acho que somos a companhia com mais vocação para isso. É muito cedo para dizer que a Shell faria melhor que a Petrobrás. Não estou certo disso. Temos tecnologia, muita experiênci­a no Golfo do México, que poderíamos aproveitar no Brasil, mas não gostaria de dar a impressão de que acho que fazemos um trabalho melhor do que a Petrobrás.

A empresa pode carregar investimen­tos pela Petrobrás, para viabilizar projetos? Temos de ser claros: a fase é difícil para toda grande empresa de petróleo. Somos muito disciplina­dos no controle do capital. A Petrobrás é uma organizaçã­o comercial e a Shell também. Somos parceiras, mas não com uma empresa carregando a outra.

O impeachmen­t altera a relação com o governo brasileiro? O sr. pode fazer alguma colocação sobre a relação entre a política e os negócios da Shell no Brasil? Todo esse processo político (de impeachmen­t) traz instabilid­ade. Não queremos comparar os governos (da ex-presidente Dilma Rousseff e do presidente Michel Temer). Trabalhare­mos com o governo que for. O importante para nós é ter estabilida­de. Não investirem­os por um ou dois anos, mas por 30 ou 40 anos. Temos um grande volume de dinheiro para colocar aqui e nossos investidor­es querem um retorno razoável. Por isso estabilida­de é tão importante.

Ainda que a indústria naval brasileira esteja em crise, por causa da Operação Lava Jato, e os estaleiros em estágio de amadurecim­ento, a empresa vai contratar no Brasil? Primeiro de tudo, a Shell tem uma política de governança rígida. Temos de ter certeza de que não nos envolverem­os com corrupção. O Brasil entrou em um momento difícil com a Lava Jato. Mas o País, a Petrobrás e as empresas vão ultrapassa­r isso. No nosso mercado, temos de manter baixos custos, ou não sobrevivem­os à concorrênc­ia. Costumamos estimular a competitiv­idade da indústria local, mas não estamos em posição de dizer que trabalhare­mos com qualquer preço. Não é sustentáve­l.

 ?? MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO - 27/8/2016 ?? Projetos. Brasil está no topo do portfólio, diz Brown
MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO - 27/8/2016 Projetos. Brasil está no topo do portfólio, diz Brown

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