‘A vida, o amor, um dia tudo chega ao fim’
Você viveu em comunidade, mas apresenta, aqui e em A Caça, um retrato bastante sombrio da dinâmica de grupo. Foi tão horrível assim? Pelo contrário, foi um período feliz. Mas para construir um drama é preciso conflito. A Comunidade inspira-se em lembranças, sensações. Não é uma história real. Houve uma morte, um divórcio naquele grupo. Meus pais se separaram, mas continuaram vivendo juntos. Minha mãe não desmoronou. Para mim, A Comunidade é sobre a substituição, sempre brutal, mas inevitável, em certos momentos da vida. A jovem no filme ( Helene Reingaard Neumann) é minha mulher, e tenho a impressão de estar falando de mim, agora, por meio de meu pai, no passado.
As duas mulheres, Anna e Emma, parecem-se muito. Emma é a versão jovem de Anna. Conversei com um jornalista que se prendeu justamente nesse ponto. Falamos sobre Persona/Quando Duas Mulheres Pecam, de ( Ingmar) Bergman. Falei que a substituição é uma coisa brutal, e no amor, então, nem se fala. É um tema que me angustia. A forma como tudo é passageiro. A morte, no filme, visa a destacar essa nossa fragilidade. A vida, o amor, tudo acaba. Todos os dias me olho no espelho e percebo mudanças. E penso: ‘Um dia vou morrer!’. Com Anna e Emma, e Trine (Dyrholm) e Helene, queria justamente marcar essa passagem. Trine é, com certeza, uma bela mulher, mas não tem mais a pele de Helene. O filme constrói-se muito na epiderme das atrizes.
Sendo um filme de grupo, com tantos atores e atrizes, houve muita improvisação? Era importante que os atores se apropriassem do roteiro. Houve improvisação, sim, mas não durante a filmagem. Na preparação.