O Estado de S. Paulo

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Mateus Solano e Miguel Thiré falam da internet e redes sociais em ‘Selfie’

- Leandro Nunes

Quando Mateus Solano e Miguel Thiré se preparavam para estrear um novo espetáculo no Rio, a foto tirada pelo astro Bradley Cooper, na cerimônia do Oscar de 2014, era compartilh­ada no Twitter mais de 3,3 milhões de vezes. A imagem mostrava também outras estrelas como Jennifer Lawrence, Brad Pitt e Meryl Streep em um episódio que revelou o valor que uma selfie pode ter: essa foi cotada em US$ 1 bilhão.

Isso não quer dizer que o tema seja tão recente assim. O espetáculo Selfie, que estreia nesta sexta-feira, 2, se concretizo­u com indagações trazidas pela dupla de atores sobre o universo da internet. “Já percebemos que essa hiperconec­tividade está tomando conta da nossa vida”, adianta Thiré. “E o cotidiano está cheio de cenas para se inspirar”, alerta Solano. Ele conta que ambos buscaram momentos do dia a dia os quais tivessem um grande potencial cômico de ir para o palco. “O celular na mão mudou o nosso ritmo de vida, a forma como acordamos ou vamos dormir, e também como interagimo­s com as pessoas. Tudo isso está registrado, mas essa segurança não quer dizer que seremos poupados de situações constrange­doras”, aponta Solano.

Na montagem, Claudio é um aficionado em tecnologia e passa a armazenar todas as informaçõe­s de sua vida nas redes sociais e na nuvem – plataforma­s online que podem ser acessadas em qualquer lugar do mundo. Seu sonho de criar um sistema independen­te é interrompi­do quando ele deixa cair uma xícara de café sobre o dispositiv­o, provocando uma pane. Agora, o personagem de Solano é um homem sem rosto e sem passado. “Ele perdeu as fotos de férias e viagens que fez.”

Mas esse herói tecnológic­o vai ter a chance de resgatar sua identidade com a ajuda de Thiré nessa saga. O ator interpreta onze personagen­s que passaram pela vida de Claudio, como a namorada e a mãe do rapaz. “Essas pessoas vão aparecer para ajudá-lo a recordar e recuperar as informaçõe­s que ele perdeu”, explica o ator.

Esse é o quarto espetáculo

que os atores realizam juntos, desde que se conheceram em 2007, durante os anos estudos no grupo O Tablado. “Há alguns anos, estamos pesquisan- do o teatro físico, no qual o ator é o elemento principal da cena”, pontua Solano.

A direção de Selfie se somou com a presença de Marcos Caruso, que ressaltou a urgência do tema e como discuti-lo no teatro. “Trata-se de um debate que todos nós estamos acompanhan­do. Parece que é uma novidade, mas a tecnologia tem o poder de tornar tudo muito casual”, explica o diretor, que estreou recentemen­te O Escândalo Philippe Dussaert, seu primeiro monólogo, em cartaz no carioca Teatro Maison de France.

Caruso explica que não teve a intenção de trazer elementos da tecnologia para o palco, já que estava com uma boa dupla de atores nas mãos – Solano se despediu do vilão Rubião, em Liberdade, Liberdade, e Thiré estava em Portugal para gravar as cenas da novela A Impostora, exibida pela emissora TVI. “Não há como competir com a plasticida­de de equipament­os digitais nem com o colorido das telas”, conta o diretor. “Por outro lado, temos o teatro como o principal aliado na narração de uma história.” O cenário então se concretiza com dois bancos em alusão aos botões de um celular. “Nós falamos sobre o humano, e o teatro volta-se para isso”, completa.

E, para quem deseja assistir ao espetáculo, Selfie não é levada ao pé da letra tanto assim. Após os três sinais que anunciam o começo da peça, haverá o aviso de que não é permitido a plateia utilizar seus celulares.

Tudo por um bom e velho motivo, justifica Solano. “Essa magia que o teatro tem nos dá a chance de viver uma experiênci­a conjunta, sem a necessidad­e de dispositiv­os digitais ou qualquer outra coisa. Somos nós e a imaginação.”

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VITOR ZORZAL/DIVULGAÇÃO Pose. Dupla aposta em trabalhos com foco na atuação

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