O Estado de S. Paulo

Saúde e educação ficam acima do piso

Em 2017, áreas vão receber mais que o limite constituci­onal, segundo o governo, mas especialis­tas ainda veem ‘subfinanci­amento’

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli

No centro das disputas no Congresso Nacional por mais recursos, as despesas da área de saúde ficarão R$ 6,3 bilhões acima do piso constituci­onal, de acordo com as previsões do projeto de Orçamento de 2017. Já na educação, a cifra projetada pelo governo supera o mínimo em R$ 33,5 bilhões, segundo o Ministério do Planejamen­to. Mesmo assim, especialis­tas dizem que as áreas ainda têm “subfinanci­amento”.

No caso da saúde, de acordo com o ministro do Planejamen­to, Dyogo Oliveira, o projeto enviado ao Congresso considera R$ 110,2 bilhões para a área, enquanto o piso para 2017 representa­ria uma destinação de R$ 103,9 bilhões. Ao incluir despesas que não contam para o mínimo, como o programa Farmácia Popular, a área de saúde vai receber ao todo cerca de R$ 115 bilhões, além de mais R$ 4,7 bilhões em emendas de parlamenta­res que integram o chamado orçamento impositivo. “Está bastante acima do mínimo”, disse Oliveira. Em 2016, a previsão é que os gastos com saúde fechem em R$ 102,8 bilhões.

Para a educação, o governo também está garantido valores Ponto de vista superiores ao mínimo constituci­onal, disse o ministro. O mínimo da educação em 2016 é R$ 45,5 bilhões e será de R$ 51,5 bilhões em 2017. Mas a aplicação de recursos na área subirá de R$ 77,2 bilhões (previstos para 2016) para R$ 85 bilhões no ano que vem. “O esforço todo foi de preservar saúde e educação”, afirmou Oliveira.

A despeito das cifras, o professor Remi Castioni, da Faculdade de Educação da UnB e membro do Fórum Nacional de Educação, vê estagnação nos gastos em educação justamente no mo- mento em que o governo deveria ampliar investimen­tos na área. “O déficit atual é muito grande”, disse. Para ele, o quadro é um prenúncio do que virá com a implementa­ção da Proposta de Emenda Constituci­onal (PEC) que cria o teto de gastos, medida defendida pelo novo governo como crucial para ajustar as contas públicas.

Segundo Castioni, a PEC prejudicar­á o cumpriment­o das metas do Plano Nacional de Educação (PNE), que prevê ampliação de matrículas desde a educação infantil até o ensino profis- sional. “Os próximos 20 anos são exatamente o período em que mais deveríamos investir. Depois, haverá queda no número de matrículas com o envelhecim­ento da população.”

O governo direcionou R$ 19,9 bilhões para bancar operações do Fundo de Financiame­nto Estudantil (Fies) ao longo do ano que vem, com a criação de 310 mil novas vagas. Com isso, a expectativ­a é beneficiar 1,7 milhão de estudantes, segundo os dados divulgados no Orçamento. Neste ano, os recursos direcionad­os ao programa somaram R$ 18,2 bilhões.

Embora reconheça a importânci­a da ampliação das matrículas por conta do Fies, Castioni vê a política com preocupaçã­o. “É preciso elevar os mecanismos de controle”, advertiu.

Vinculação. Na saúde, a ampliação na dotação de recursos para o ano que vem será inócua para combater o subfinanci­amento que afeta a área, avalia a professora da UFRJ Ligia Bahia, especialis­ta em saúde coletiva. “Pelo menos não é redução drástica, mas mantém o padrão de racionamen­to de recursos para a saúde”, disse. Segundo Ligia, o Brasil investe hoje cerca de US$ 1,4 mil per capita, consideran­do saúde pública e privada. O ideal, na visão da especia- lista, seria chegar a US$ 2 mil per capita só em despesas do setor público, o que demandaria dobrar os investimen­tos da União.

A professora teme que os gastos em saúde caiam, à medida que o governo faça valer as regras da PEC do teto de gastos. “Não sou a favor de vinculação (dos gastos com saúde à receita), mas o problema é a perspectiv­a de congelamen­to. Isso é inadmissív­el para as políticas sociais”, afirmou.

A consultori­a de Orçamento e Fiscalizaç­ão Financeira da Câmara dos Deputados, que auxilia os parlamenta­res integrante­s da Comissão Mista de Orçamento, também vê com preocupaçã­o a trajetória futura de recursos para a saúde, o que poderia compromete­r a sustentaçã­o do sistema. A avaliação é de que o declínio do piso de saúde apurado segundo as regras vigentes ocorre justamente em 2016, ano que servirá de base para a fixação da nova regra da PEC do teto do gasto.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO - 2/6/2016 Orçamento 2017. Ministro do Planejamen­to diz que previsão supera limite estabeleci­do

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