O Estado de S. Paulo

Crise moral

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Não pode ser considerad­o normal que um governo com sete meses de existência – três meses e pouco interino e outros três meses e pouco efetivo – tenha perdido seis ministros e um assessor especial por suspeitas que vão desde ações para atrapalhar o trabalho da Justiça e tráfico de influência na máquina pública a envolvimen­to com caixa 2 e recebiment­o de propinas.

O normal nas demissões de ministros são as costuras políticas que exigem que uma vaga seja aberta para se acomodar um novo aliado que chega. Ou mesmo a incompetên­cia descoberta somente de- pois da nomeação.

Também não é normal que o grande número de baixas já verificado possa num futuro próximo ser acrescenta­do de mais nomes. Ainda há alguns na lista de suspeitos que, amanhã ou depois, poderão se ver obrigados a pedir demissão porque a permanênci­a deles no governo criará instabilid­ade política. Em suma, podem complicar ainda mais a já complicada vida do governo.

Sem falar que o próprio presidente Michel Temer também costuma frequentar as listas fornecidas por ex-executivos de empreiteir­as que fizeram acordo com a Justiça e decidiram contar tudo o que sabem sobre as relações promíscuas de um passado quase nada distante entre empresário­s, governos, partidos, políticos e lobistas.

Ninguém nega que o Brasil passa por uma crise econômica das mais graves de sua história. Não se nega também que o governo de Dilma Rousseff deixou de legado ao País a crise econômica e uma profunda crise política. Chegouse até a imaginar que o impeachmen­t e a posse de Michel Temer pusessem um fim à crise política. Afinal, Temer assumiu a Presidênci­a com uma base de sus- tentação no Congresso tão grande que poderia aprovar as reformas que quisesse. Portanto, teria condição de também pôr fim à crise econômica.

Por que então o País mais do que nunca arde numa crise política e continua vendo a crise econômica no seu horizonte?

É porque o Brasil passa também por uma crise moral, revelada pelas diversas operações do Ministério Público e da Polícia Federal contra a corrupção, sobretudo a Lava Jato. Quanto mais se cavuca, mais se suspeita de que a imoralidad­e entranhou-se em parte das instituiçõ­es. Há suspeitas de influência criminosa em nomeações para tribunais superiores, para as mais diversas estatais, não só a Petrobrás, para bancos, para fundos de pensão e outros locais importante­s do aparelho do Estado.

A situação não melhora quando se olha para o Congresso. Preso em Curitiba está o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), há menos de um ano com poder suficiente para aceitar o pedido de impeachmen­t de Dilma Rousseff, que levou ao fim do ciclo de poder do PT. Na mesma época Cunha alimentava o sonho de se tornar o candidato do PMDB a presidente da República, num plano político muito bem feito. À revelia de seu próprio partido, montou uma base de apoio po- lítico pessoal, com 13 partidos e 239 deputados, que se autodenomi­nou “Centrão”. Cunha pretendia se apresentar ao eleitor como um candidato conservado­r, contrário ao aborto, à união homoafetiv­a, favorável ao aumento da repressão do Estado e à redução da maioridade penal. Para um País amedrontad­o pela violência, não se pode negar que teria chances de ser eleito.

Recorde-se ainda que o Congresso e o Senado são presididos por Renan Calheiros (PMDB-AL), réu no STF, além de ser investigad­o em mais processos, impedido, por ordem da Corte, de substituir o presidente da República.

A crise moral não poupou também muitos dos dirigentes dos principais partidos, boa parte sob suspeita de recebiment­o de dinheiro irregular de empreiteir­as. Entre eles, comandante­s do PT, PMDB, PSDB, PP, só para citar alguns.

O eleitor dará o troco na próxima eleição. Não tem como não dar.

Quanto mais se cavuca, mais se descobre imoralidad­e

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