O Estado de S. Paulo

Morre Villas-Bôas Corrêa, repórter político por mais de seis décadas

O jornalista carioca, de 93 anos, era conhecido pelo texto elegante e pela análise sofisticad­a dos acontecime­ntos

- Wilson Tosta Roberta Pennafort

Mais antigo dos repórteres políticos do País, o jornalista Villas-Bôas Corrêa morreu na noite de anteontem, aos 93 anos, no Hospital São Lucas, em Copacabana, na zona sul do Rio. Exerceu a profissão por 63 anos – começou na carreira jornalísti­ca em 1948 e publicou sua última coluna, Coisas da Política, em 2011, no Jornal do Brasil, onde escreveu por três décadas – e foi diretor da sucursal do Rio do Estado, onde trabalhou durante 23 anos. Também atuou em outras publicaçõe­s, como A Notícia, O Dia eo Diário de Notícias, além de emissoras de TV (Manchete e Bandeirant­es) e na Rádio Nacional.

O corpo do jornalista será velado hoje a partir das 10 horas no Memorial do Carmo. Às 13h30, será cremado. VillasBôas Corrêa morreu em decorrênci­a “de um choque séptico causado por uma pneumonia comunitári­a”, segundo o Hospital São Lucas, onde ele foi internado no dia 9.

Era conhecido pelo texto elegante, com estilo inconfundí­vel e algo irônico, e pela sofisticad­a capacidade de análise política. Foi com essas ferramenta­s profission­ais que o carioca da Tijuca Luiz Antônio Villas-Bôas Corrêa acompanhou mais de 60 anos de política brasileira. Formou-se advogado pela Faculdade Nacional de Direito, onde se espantou com a efervescên­cia política e presidiu o Centro Acadêmico Cândido de Oliveira (Caco) no Estado Novo.

A trajetória profission­al o transforma­ria em testemunha dos principais acontecime­ntos políticos da segunda metade do século 20 e do início do século 21 no Brasil. Longa, a lista inclui o suicídio do presidente Getúlio Vargas, o contragolp­e do marechal Henrique Lott, em 1955, as revoltas de Jacareacan­ga e Aragarças no governo JK, a renúncia do presidente Jânio Quadros em 1961, o golpe de 1964, a ditadura civil-militar, a redemocrat­ização, a agonia e morte de Tancredo Neves, o impeachmen­t de Fernando Collor, os dois governos de Luiz Inácio Lula da Silva e o início do primeiro período de Dilma Rousseff na Presidênci­a.

Em, 1985, segundo relatou no livro Conversa com a Memória - A História de Meio Século de Jornalismo Público (Ed. Objetiva) preparara-se para participar, pela TV Manchete, da cobertura da posse de Tancredo. A solenidade acabou frustrada por uma cirurgia de emergência cujas complicaçõ­es levariam o presidente à morte sem jamais ser empossado. Praticamen­te sozinho no estúdio, Villas ancorou desde cedo (a operação fora feita de madrugada) o noticiário, enquanto a cober- tura era reorganiza­da. “Continua, Villas”, pediam-lhe, pela linha interna de comunicaçã­o, para que não parasse de falar. O repórter, apesar do cansaço, garantiu por horas, com seus comentário­s e intervençõ­es, a transmissã­o.

Ontem, colegas de profissão recordaram a trajetória de Villas no jornalismo político. “Ele foi um conselheir­o histórico na Associação Brasileira de Imprensa ( ABI) e participou de todo os fatos importante­s para a democratiz­ação do País. Deixa um legado muito grande para as novas gerações”, disse o vicepresid­ente da entidade, Paulo Jeronimo de Sousa.

O jornalista e escritor Zuenir Ventura lembrou também a imparciali­dade de Villas-Bôas, com quem trabalhou no Jornal do Brasil. “Ninguém jamais soube das preferênci­as políticas dele. Era muito íntegro e não foi só analista político, mas também um excelente repórter.”

Villas-Bôas Corrêa era viúvo de Regina Maria de Sá Corrêa e deixa dois filhos, o jornalista Marcos Sá Corrêa e o professor Marcelo de Sá Corrêa, três netos e três bisnetos.

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EDUARDO CAMPOS/DIVULGAÇÃO–25/7/2003 Testemunha. Villas-Bôas Corrêa atuou em rádio, TV e jornais

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