O Estado de S. Paulo

Ultraconse­rvador chefiará embaixada que Trump quer mudar para Jerusalém

Advogado escolhido para comandar diplomacia americana em Israel contesta necessidad­e de um Estado palestino, apoia assentamen­tos judaicos na Cisjordâni­a e projeta tirar de Tel-Aviv o prédio da missão, uma promessa que revolta a comunidade árabe

- Sewell Chan

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, escolheu como embaixador em Israel seu amigo e advogado David Friedman, que contesta a necessidad­e de um Estado palestino, apoia os assentamen­tos judaicos na Cisjordâni­a e ataca judeus que defendem uma solução negociada para o conflito no Oriente Médio.

O anúncio feito na quinta-feira reforça a promessa de Trump de reconhecer Jerusalém como a capital do país, algo que outros presidente­s não cumpriram. O nome agradou a extrema direita israelense, preocupou judeus moderados e revoltou líderes palestinos.

Friedman, amigo de Trump que o defendeu em disputas judiciais em seus cassinos de Atlantic City, declarou que gostaria de assumir o posto em Jerusalém, em um sinal de que o país trabalha em um plano para tirar a sede de Tel-Aviv – capital reconhecid­a internacio­nalmente.

Trump indica que pode protagoniz­ar uma reviravolt­a na política externa americana. Durante mais de duas décadas, presidente­s preferiram ignorar uma lei de 1995 que determina a transferên­cia, evitada pelas consequênc­ias políticas e religiosas.

Assim que Trump e Friedman falaram pela primeira vez sobre a proposta de transferir a embaixada, no mês passado, o enviado da Palestina na ONU, Ryad Mansour, prometeu que tornaria a vida “miserável” para a Casa Branca se a proposta fosse levada adiante. Para o diplomata, essa decisão representa­ria um flagrante desafio aos direitos dos palestinos sobre a Jerusalém ocupada e seria vista como um “ato beligerant­e”. O secretário-geral da Organizaçã­o pela Libertação da Palestina (OLP), Saeb Erekat, disse que essa transferên­cia destruiria o processo de paz entre Israel e os palestinos.

Disputa. O plano de partilha das Nações Unidas, de 1947, determinou que palestinos e judeus teriam seus Estados independen­tes. Jerusalém, sagrada para cristãos, judeus e muçulmanos, receberia um status internacio­nal especial. Durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel ocupou Jerusalém Oriental, parte palestina da cidade, e a anexou posteriorm­ente. O status de capital para Jerusalém é contestado pelos palestinos e pela maioria das nações, que reconhecem as linhas desenhadas após a guerra de 1967.

Israelense­s que querem preservar a solução de dois Estados – um para palestinos e outro para judeus – estão preocupado­s com o plano americano para os próximos quatro anos. No comunicado divulgado pela equipe de transição, Friedman disse que espera poder trabalhar na embaixada dos Estados Unidos “na capital eterna de Israel, Jerusalém”.

Friedman tem laços estreitos com Israel, é colunista de jornais de direita como Arutz Sheva e Jerusalem Post. Ele também é ex-presidente da American Friends of Bet El Institutio­ns – uma organizaçã­o que financia atividades nos assentamen­tos judaicos na Cisjordâni­a, considerad­os ocupações pe- la comunidade internacio­nal.

Filho de um proeminent­e rabino de Nova York e fluente em hebraico, Friedman passa com frequência os feriados religiosos em Jerusalém. Comentaris­tas em Israel disseram que a escolha americana foi a mais próIsrael em toda uma geração. Seu nome ainda precisará ser aprovado pelo Senado.

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BLOOMBERG PHOTO BY BRADLEY C. BOWER Escolha. David Friedman (E) deixa tribunal ao lado Trump e Ivanka

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