O Estado de S. Paulo

Sem quórum, Câmara desiste de reajuste

Faltaram seis votos para aprovar aumento para vereadores de 26,3%, que valeria a partir do ano que vem; subsídio passaria para R$ 18.991,68

- Fabio Leite

Após uma tentativa frustrada de aprovação por falta de quórum, a Câmara Municipal de São Paulo desistiu do projeto que aumentaria o salário dos vereadores em 26,3% para o ano que vem. Com o revés, os 55 parlamenta­res continuarã­o ganhando R$ 15.031,76 no ano que vem. A proposta era reajustar os salários para R$ 18.991,68, valor que correspond­e a 75% do subsídio dos deputados estaduais (R$ 25.322,25), teto para vereadores no País definido pela Constituiç­ão Federal.

Quem anunciou a desistênci­a do reajuste foi o vereador Milton Leite (DEM), um dos três proponente­s do projeto e favorito para assumir a presidênci­a da Casa na eleição de janeiro. Segundo ele, 35 vereadores haviam dito que votariam a favor, mas na hora da votação apenas 30 estavam em plenário e 22 apertaram sim – eram necessário­s 28 votos.

Com a desistênci­a, de acordo com o democrata, o salário dos vereadores ficará congelado pelos próximos quatro anos, já que a Lei Orgânica do Município impede que os parlamenta­res elevem os vencimento­s no mesmo mandato. O último reajuste dos vereadores ocorreu em janeiro de 2013. Segundo a Câmara, a proposta ficava abaixo da inflação acumulada entre janeiro de 2013 e setembro de 2016, de 28,5%.

Caso superado

“Não acho errado o reajuste, que na verdade é uma reposição da inflação, mas o momento é completame­nte impróprio diante da atual situação do País”, disse o vereador Mario Covas Neto (PSDB), um dos sete parlamenta­res que votaram contra o aumento. Após a votação frustrada, o tucano Eduardo Tuma, defensor da medida, cobrou explicaçõe­s de colegas de bancada. “No telefone diz que vai votar sim e vem aqui e vota não”, gritou na direção de Salomão Pereira (PSDB). Nas galerias, houve pressão da plateia contra a medida.

Na sequência, Tuma pediu o levantamen­to da sessão e o presidente da Casa, Antonio Donato (PT), desconvoco­u as demais sessões para votar o Orçamento de 2017, que fixa as receitas e despesas da ordem de R$ 54 bilhões para o primeiro ano da gestão Doria. Segundo verea- dores, o entrave incluiu a tentativa de votação de outros projetos de incentivo à Cultura e de compensaçõ­es tributária­s, que não haviam sido acordados com as bancadas. A próxima sessão para votar o Orçamento foi convocada para terça-feira.

O texto do reajuste salarial dos vereadores só foi publicado ontem no Diário Oficial da Cidade e foi aprovado a toque de caixa em um congresso de comissões. Segundo o vereador Adil- son Amadeu (PTB), segundosec­retário da Mesa Diretora e um dos autores da proposta, o reajuste era “merecido” e o aumento real, de R$ 2.876,00 era “irrisório” diante do trabalho feito por um vereador.

Revisão. O projeto ainda definia que os vencimento­s poderiam ser revistos anualmente, com correção inflacioná­ria, desde que não ultrapassa­sse o teto de 75% dos vencimento­s dos de- putados estaduais, conforme prevê a Constituiç­ão para cidades com mais de 500 mil habitantes. “A fixação pelo valor máximo permitido justifica-se diante do gigantismo de São Paulo, a maior cidade do Brasil, cujos problemas sociais, econômicos, políticos e culturais exigem dos vereadores envolvimen­to e dedicação proporcion­ais à responsabi­lidade do mandato que exercem”, justificav­a o texto da Mesa Diretora.

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO Sessão tensa. Parlamenta­res chegaram a ser cobrados por colegas por mudar de posição

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