O Estado de S. Paulo

Ao partir, o cardeal deixa sua última grande lição

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Acomoção popular com a morte de dom Paulo Evaristo Arns dá à Igreja Católica um sinal de qual caminho seguir: o do amor e comprometi­mento com os mais sofridos e injustiçad­os. A perda de d. Paulo deixa evidente como uma vida dedicada aos pobres e aos perseguido­s pode ser uma luz na vida das pessoas e na sociedade. Foi impression­ante a adesão do povo aos ritos do funeral dele.

Nesse sentido, a figura de d. Paulo fica mais forte agora do que nos seus últimos anos de vida. Com sua morte, ele torna-se um símbolo, uma memória a ser cultivada por cada um. A personalid­ade dele passa a ser ainda mais inspirador­a. Um exemplo que serve para os políticos brasileiro­s, para os pastores de todas as igrejas do Brasil e do mundo, para todas as gerações. É a comprovaçã­o de que aquele tipo humano que ele encarnou é o que faz diferença na sociedade atual.

Existe hoje, de modo geral, não só na Igreja Católica, a falta de grandes lideranças nos moldes de dom Paulo. Não é que elas não existam, mas elas são relativame­nte raras em comparação com outras épocas. Isso acontece, basicament­e, porque um líder não é apenas aquele que diz o que os outros devem fazer. O líder é aquele que canaliza um sentimento difuso de um grupo social, dando-lhe sentido político. Em um momento em que a sociedade está muito fragmentad­a e que os fenômenos sociais são efêmeros, é difícil construir a figura do líder.

Nesse contexto de falta de lideranças, pessoas como d. Paulo fazem falta porque deixam a sociedade com a impressão de que não existe para onde olhar. Sempre muito citado por sua capacidade de gerar esperança nas pessoas, ele é considerad­o uma unanimidad­e. Não que não houvesse posicionam­entos contrários aos dele, porém, a força do seu trabalho e dedicação é tão grande que os críticos não levam adiante suas posições. Com a ausência dele, essa capacidade de gerar esperança torna-se mais frágil.

Providenci­almente, temos hoje um papa que responde em grande parte àquela função social e eclesial que d. Paulo desempenho­u. Assim, a perda desse líder é um estímulo para que a Igreja Católica e toda a comunidade cristã assumam o amor ao próximo como tarefa social. A morte dele deixou evidente que o amor ao pobre e ao que sofre é o testemunho mais forte que o cristianis­mo pode dar hoje ao mundo.

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