‘Ensinou a ver a vida de um lado bom, o de Deus’
A irmã Maria Stella Sanches Coelho, de 90 anos, que trabalhou diretamente com d. Paulo Evaristo Arns por quase dez anos, foi uma das últimas visitantes no velório e lembrou de como ele alegrava outras pessoas mesmo nos piores momentos da ditadura.
“D. Paulo sabia levar a gente para bem perto de Deus. Hoje, eu já estou com 90 anos, tive um AVC (acidente vascular cerebral) e quase não ando mais. Mas dom Paulo nos ensinou a prestar mais atenção nos outros e se esquecer da gente”, disse a irmã.
A pedido do cardeal, Maria Stella esteve à frente do jornal O São Paulo, da Arquidiocese de São Paulo, durante o período da censura e do regime militar.”Eu era uma simples religiosa, não era jornalista nem nada, mas ele confiava em mim. Nós íamos na máquina para ver o que eles tinham cortado. Tudo que se cortava, escrevíamos no lugar: ‘Leia e divulgue O São Paulo’.”
Enquanto esteve à frente da publicação, ela afirmou que sentiu que era seguida por carros muitas vezes, mas que nunca teve medo. “Confiava muito em d. Paulo.”
Uma das proibições era mencionar o nome de d. Helder Câmara, acusado de “comunista” pelo regime e considerado um “morto-vivo” – citar seu nome na imprensa era proibido. “Foram anos muito difíceis.”
Maria Stella também destacou o cuidado do cardeal com todos que o procuravam. “Tinha um carinho especial com quem chegava perto, podia ser católico ou não. E sempre com aquele sorriso. Ele ensinou a ver a vida de um lado bom, o lado de Deus.”