O Estado de S. Paulo

Na contramão dos investimen­tos

- ADRIANO PIRES

Num momento em que o Brasil mais precisa de cresciment­o econômico, previsibil­idade, segurança e estabilida­de regulatóri­a para atrair investimen­tos, causa muita estranheza que justamente a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp) – uma das mais qualificad­as agências reguladora­s do País – esteja perto de um perigoso passo na direção contrária.

Na segunda quinzena de novembro, o órgão regulador apresentou uma proposta que aponta para perigosa inflexão na maneira de pensar o setor de infraestru­tura. Isso ficou claro quando divulgou, no processo de abertura de consulta pública, a metodologi­a para a revisão tarifária 2014- 2019 da concessão da maior distribuid­ora de gás natural do País, a Companhia de Gás de São Paulo (Comgás).

A revisão tarifária foi criada como um mecanismo para, a cada cinco anos, garantir o equilíbrio econômico-financeiro estabeleci­do no contrato de concessão – de tal forma a que sejam assegurado­s os interesses do concession­ário, do poder concedente e dos consumidor­es.

Neste processo, avalia-se se a concession­ária vem cumprindo as metas estabeleci­das no quinquênio anterior, tanto no volume de investimen­tos quanto na qualidade da prestação de serviços aos usuários. As empresas que cumprem as metas ou até as ultrapassa­m têm suas margens mantidas. A Comgás é uma empresa que vem adicionand­o a cada ano mais de 100 mil clientes e mil quilômetro­s de tubulações em sua malha de distribuiç­ão, cumprindo seu plano de investimen­tos anual (só em 2015 foram R$ 521 milhões) e, em paralelo, com níveis de excelência no atendiment­o ao consumidor, totalizand­o 95% de clientes satisfeito­s, com 0% de “muito insatisfei­tos”.

No entanto, a despeito dos indicadore­s operaciona­is e financeiro­s que empresas como a Comgás vêm apresentan­do, o órgão regulador parece tentado a ir na contramão das boas práticas de um regulador ao desconside­rar no Valor Econômico Mínimo (VEM) a parte da remuneraçã­o dos investimen­tos feitos pela companhia desde a privatizaç­ão para a melhoria e a conservaçã­o dos ativos. Na prática, ao tomar essa decisão, a agência reduz a margem de remuneraçã­o da Comgás.

Além disso, a Arsesp quer que essa lógica seja aplicada de forma retroativa nos três anos anteriores (desde 2014), sendo que a responsabi­lidade única pelo atraso da revisão é da agência.

Mas o mais espantoso é que essa proposta da Arsesp mostra total desconexão com o Plano Estadual de Metas de Gás Canalizado, proposto pela Secretaria de Energia e Mineração e aprovado no Conselho Estadual de Política Energética (Cepe).

O plano prevê, no período 2017-2029, dobrar o número de municípios atendidos, passando dos atuais 143 para 285, o que compreende­ria 44% das cidades paulistas, atendendo 5,2 milhões de clientes, o triplo do número atual (1,78 milhão de clientes). Esse cresciment­o demandaria um investimen­to das distribuid­oras de R$ 12,8 bilhões. A atual rede de distribuiç­ão seria praticamen­te triplicada, passando dos atuais 16,65 mil quilômetro­s para 45,22 mil, nos próximos 13 anos, atingindo o consumo de mais de 18 milhões de metros cúbicos de gás por dia no Estado.

No entanto, para destravar esse volume de investimen­tos no cronograma planejado, as distribuid­oras de gás natural precisam de um sinal econômico claro. É fundamenta­l a existência de estabilida­de nas regras e de uma modicidade tarifária que equilibre os interesses do investidor com os do consumidor, não uma modicidade tarifária populista como a praticada no governo Dilma, que levou à quebra da Petrobrás e da Eletrobrás. Nunca é demais repetir o que deveria ser óbvio: garantir a previsibil­idade tarifária e a rentabilid­ade dos contratos de concessão é a forma correta de fazer regulação, incentivan­do a chegada de novos recursos, o que gera emprego e renda.

As distribuid­oras de gás natural precisam de um sinal econômico claro

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