Com dívidas de R$ 8 bilhões, estaleiro Ecovix pede recuperação judicial no RS
Empresa do grupo Engevix, envolvido em esquemas de corrupção na Lava Jato, demitiu 3,8 mil funcionários somente nesta semana e espera obter a proteção da Justiça para apresentar um plano de recuperação que envolve a venda de ativos dos estaleiros
A Ecovix, empresa do setor naval que pertence ao grupo Engevix, entrou ontem com pedido de recuperação judicial na Justiça na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. As dívidas da empresa beiram os R$ 8 bilhões, o que torna esta uma das maiores recuperações entre empresas ligadas a empreiteiras acusadas de corrupção na Lava Jato. Desde o início da semana, a companhia dava sinais de que recorria à proteção da Justiça para evitar a falência – o que se confirmou ontem.
As dificuldades financeiras do estaleiro estão afetando fortemente a região, que tem na indústria naval sua principal atividade econômica. Só dos estaleiros da Ecovix foram demitidos 3,8 mil funcionários na terça-feira. Em seu auge, a Ecovix chegou a ter 12 mil funcionários. A expectativa dos trabalhadores que foram demitidos nesta semana é de que as rescisões trabalhistas sejam pagas à vista pela empresa. A informação pode constar do plano de recuperação, assim como o pagamento de contratos de fornecimentos para micro e pequenas empresas.
O maior credor da empresa é a Petrobrás, com R$ 4 bilhões a receber. A estatal, no entanto, fechou um acordo para receber os oito cascos de navios de produção de petróleo que ainda estavam em construção ou em fa- se final de ajustes. Entre os grandes credores nacionais, estão também listados os bancos Bradesco (R$ 600 milhões) e o Banco do Brasil (R$ 400 milhões).
Um outro investidor de grande porte no empreendimento é o fundo de pensão da Caixa – cotista do fundo RG Estaleiros, que, por sua vez, é sócio da Ecovix. A Funcef tem hoje R$ 300 milhões no negócio. Como detém debêntures (títulos de dívida) da companhia, tenta fazer um arranjo para se tornar credora. A assessoria de imprensa do fundo não deu retorno para fa- lar do assunto. A Petrobrás informou que não comentaria.
Venda de ativos. Sem os contratos com a Petrobrás, que fechou acordo próprio, o plano de recuperação da empresa deverá estar calcado na venda dos ativos dos estaleiros no Rio Grande do Sul. Com as medidas econômicas anunciadas nesta semana pelo governo federal, existe a expectativa de que o ativo se torne mais atrativo, já que até agora não houve interessados na compra da empresa, mesmo quando ainda tinha os contra-
tos em vigência com a Petrobrás.
Os problemas da Ecovix começaram quando a empresa foi arrastada pelas denúncias de corrupção na Operação Lava Jato, há dois anos. Os sócios do grupo Engevix foram presos em diferentes fases da operação. Neste tempo, a empresa tentou reestruturar a dívida e vender os estaleiros para algum investidor estrangeiro, sem sucesso. Durante o processo, inclusive, os sócios japoneses, liderados pela Mitsubishi, deixaram a sociedade no início de 2016. Eles venderam a participação que detinham por R$ 1, reconhecendo prejuízo de cerca de US$ 300 milhões feito no estaleiro.
Os estaleiros no Rio Grande do Sul da Ecovix nasceram quando a empresa ganhou uma licitação internacional para construir oito cascos de navios de produção de petróleo, conhecidos como FPSO, para serem usados na exploração do présal. A estimativa é que os contratos com a Petrobrás tenham somado, na época, cerca de US$ 3,5 bilhões.
Mais tarde, o estaleiro também conseguiu contratos para a construção de três navios sondas da Sete Brasil, empresa que foi criada para gerenciar sondas do pré-sal para a Petrobrás. A Sete Brasil também está recuperação judicial, depois que foi envolvida em delações na Lava Jato que apontaram para esquemas de pagamento de propinas por parte dos estaleiros para obtenção de contratos.
A situação da Sete Brasil é inclusive narrada pelos advogados da Ecovix no processo de recuperação judicial, liderado pelo advogado Pedro Bianchi, do escritório Felsberg Associados, como um dos motivos da deterioração econômica da empresa. Além disso, os advogados relatam as dificuldades do setor de óleo e gás no mundo, em função da queda dos preços internacionais do petróleo. Quando o estaleiro foi montado o barril custava US$ 100; agora, vale menos da metade.