O Estado de S. Paulo

A fraqueza de uma coalizão forte

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Ogoverno Temer demonstrou força com a eleição de Rodrigo Maia para a presidênci­a da Câmara, mas expôs sua fragilidad­e com a criação de um ministério para um dos seus próceres, visando protegê-lo da Lava Jato. Com uma base parlamenta­r robusta, que lhe tem garantido vitórias legislativ­as importante­s como a aprovação da duríssima PEC dos Gastos, Temer navega placidamen­te nas águas turbulenta­s das relações ExecutivoL­egislativo e desfruta de taxa inédita de apoio de 88% às iniciativa­s de seu governo.

A razão do sucesso em contexto de popularida­de pífia não se deve apenas ao tamanho da base: a coalizão de governo é a mais homogênea ideologica­mente desde José Sarney, desfrutand­o da mais elevada taxa de compartilh­amento do poder com o Executivo desde a gestão do ex-presidente do PMDB, além de ser a que exibe a mais alta taxa de coalescênc­ia (medida pela consistênc­ia entre o tamanho da bancadas dos partidos e fatia de ministério­s que estes controlam) desde FHC.

A Lava Jato é a fonte de todas as incertezas que pairam sobre o governo. Não há risco de impeachmen­t – o presidente da Câmara é aliado e o governo tem amplíssima maioria –, mas há risco de naufrágio face à extensão do envolvimen­to da base governista com a corrupção. Este cenário seria o desdobrame­nto de uma sucessão de escândalos envolvendo o núcleo duro de Temer. Mas, é improvável. Para sua sobrevivên­cia, o presidente fraco de uma coalizão forte terá a morosidade das instituiçõ­es caso apareça um tsunami de denúncias.

O cenário mais provável é que Temer atue rapidament­e – como tem sido seu padrão de resposta – a uma eventual decisão favorável do STF à impugnação da nomeação de Moreira Franco: retornando ao status quo ex-ante. Rei morto, rei posto? Não exatamente: a eventual prisão de seu auxiliar teria forte impacto sobre a presidênci­a. A chave para decifrar sua decisão é sua proximidad­e com Moreira e as implicaçõe­s mais amplas disso.

Caso o STF negue provimento à impugnação – como de resto é provável já que a Corte tem se pautado pela autoconten­ção vis-à-vis os demais poderes e como atesta a decisão recente em relação à recondução de Maia, Temer avançará na travessia do deserto. Como ator político, antecipou os potenciais custos dessa jogada de alto risco e a provável resposta do STF.

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