O Estado de S. Paulo

Nada mudará com novo relator

-

Ainesperad­a morte do ministro Teori Zavascki, relator das ações relativas à Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, trouxe inquietaçã­o aos que se preocupam com o caso. A mídia ficou alvoroçada, e muitos passaram mesmo a temer pelo que poderia acontecer.

E por quê? Justamente porque o ministro Teori conduzia com segurança e, sobretudo, com imparciali­dade a relatoria das questões. É que a mídia responsáve­l, e as pessoas sérias, desejam simplesmen­te isto: juiz independen­te, imparcial, discreto, que se sujeita apenas à sua consciênci­a e à sua ciência. Teori era tudo isso. Essa era a imagem que projetava. A imagem de um juiz.

E como ficam as coisas, agora, indagam. Penso que nada se altera. É que, tendo o Ministério Público requerido, a tempo e modo, que fosse o caso tratado com urgência – e na verdade urgência há, tendo em vista as circunstân­cias do caso –, outra providênci­a não poderia ser adotada senão a redistribu­ição do feito, na forma do disposto no artigo 68 do Regimento Interno. A redistribu­ição deveria ser feita entre os ministros que integram a Segunda Turma, porque o caso está correndo é dizer está sendo julgado pela Segunda Turma. A morte do relator ocasiona a substituiç­ão deste, apenas isto, não muda a competênci­a do órgão julgador. Se o fizesse, seria danoso, porque os juízes da Segunda Turma estão enfronhado­s da matéria.

A remoção de uma para outra Turma, em caso de vaga, se requerida pelo juiz, é medida prevista também no Regimento Interno. Mais recentemen­te, tivemos a remoção de outros ministros da Primeira para a Segunda Turma. Nada demais, portanto. Passando o ministro removido a integrar a Turma, correto que entre no sorteio. E acabou o juiz mais moderno, na Segunda Turma, o ministro Edson Fachin, a ser “premiado” com a redistribu­ição, com um mundo de trabalho pela frente. “Premiado” entre aspas.

Nada mudará com Fachin, estejamos cer- tos. Fachin tem-se revelado um juiz preparado, discreto, independen­te. É ele juiz com biografia, biografia que vem se tornando, no Supremo, cada vez mais significat­iva. O que a sociedade deseja é juiz desse feitio: independen­te, imparcial, sem “parti pris”.

Ademais, vale lembrar, os juízes são, permanente­mente, fiscalizad­os pelas partes, pelo Ministério Público e pela defesa. Se uma decisão do relator causa agravo a um ou a outro, assiste-lhe o direito de recorrer ao colegiado. As questões atinentes à Lava Jato continuarã­o bem cuidadas, no Supremo Tribunal Federal, com o novo relator.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil