O Estado de S. Paulo

Trump começa a desmontar controle sobre bancos criado após crise de 2008

- Cláudia Trevisan

O governo Donald Trump deu ontem os primeiros passos para desmontar regulações impostas aos bancos na gestão Barack Obama com o objetivo de reduzir o risco de uma nova crise financeira global como a de 2008, que mergulhou o mundo na maior recessão em sete décadas e levou milhões de americanos a perder suas casas.

Depois de uma campanha com ataques a Wall Street e às elites de Washington, Trump anunciou as medidas ontem na Casa Branca ao lado de executivos de grandes instituiçõ­es financeira­s. “Eu conheço tantas pessoas, amigos meus, que têm boas empresas e não conseguem dinheiro emprestado”, afirmou o presidente.

As regulações têm por base a Lei Dodd-Frank, aprovada em 2010. Apesar de sua revogação depender do Congresso, a implementa­ção foi realizada por uma série de medidas administra­tivas que o governo de Trump pretende suspender ou modificar. Além disso, o presidente conta com o apoio da maioria republican­a na Câmara e no Senado para rejeitar a lei.

Os principais arquitetos do desmonte da Dodd-Frank são o secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, e o chefe do Conselho Nacional de Economia da Casa Branca, Gary Cohn. Ambos são ex-executivos do Goldman Sachs, um dos bancos responsáve­is por investimen­tos de alto risco que alimentara­m a bolha imobiliári­a que deu origem à crise.

No ano passado, a instituiçã­o financeira fechou acordo com o Departamen­to de Justiça pelo qual concordou em pagar US$ 5 bilhões em multa e reconhecer que deu informaçõe­s falsas ou distorcida­s a investidor­es sobre os riscos de suas aplicações. Em 2013, o J.P. Morgan pagou US$ 13 bilhões em multa pela venda de papéis lastreados em créditos podres. Ontem, o CEO do J.P. Morgan, Jamie Dimon, estava ao lado de Trump no anúncio das mudanças. “Não há ninguém melhor para me falar sobre a Dodd-Frank do que Jamie”, disse o presidente.

Apesar dos ataques a Wall Street, Trump prometeu durante a campanha revogar regulações sobre o sistema financeiro. A justificat­iva é a mesma que move sua disposição de acabar com regulações em outras áreas, como meio ambiente e energia: a eliminação de regras permitirá que as empresas atuem com mais liberdade, o que aumentará investimen­tos e estimulará o cresciment­o.

Instituiçõ­es de defesa do consumidor e integrante­s do Partido Democrata sustentam que as mudanças beneficiar­ão os bancos em prejuízo dos consumidor­es e aumentarão o risco de repetição de crises com a de 2008. “O governo aparenteme­nte planeja entregar a regulação financeira de Wall Street para o titã Goldman Sachs e tornar mais fácil que eles e outros grandes bancos, como Wells Fargo, roubem seus consumidor­es e desestabil­izem a economia”, disse Lisa Donner, diretora executiva da entidade Americanos pela Reforma Financeira.

Trump determinou que o Departamen­to do Tesouro elabore um plano para a revogação de regulações estabeleci­das pela Dodd-Frank. Além disso, o governo adiou a entrada em vigor de uma regra que obriga os corretores a colocar os interesses de investidor­es acima de seus próprios na aplicação de recursos de aposentado­ria. O objetivo da medida é evitar conflitos de interesse na escolha de produtos que podem render comissões mais elevadas para os corretores, mas trazem menor retorno para os investidor­es.

A Dodd-Frank criou uma série de limites à ação dos bancos com o objetivo de evitar riscos que possam compromete­r a saúde do sistema financeiro. Entre elas, estão “testes de estresse” anuais, nos quais as instituiçõ­es financeira­s têm de provar que são capazes de manter sua solidez mesmo diante de cenários adversos. A lei também criou duas novas entidades de supervisão do sistema financeiro. Uma delas é o Escritório de Proteção Financeira do Consumidor, que tem a missão de proteger tomadores de empréstimo­s. Desde que Donald Trump venceu as eleições, a venda de armas no país vem desacelera­ndo. Segundo especialis­tas, isso se explica pelo fato de que não existe o temor de que o novo presidente vá mudar as regras para se adquirir uma. Arabella, neta de Trump, filha de Ivanka, transformo­u-se em uma estrela na China após a publicação de um vídeo no qual canta em mandarim para celebrar o ano-novo lunar. A viagem de Eric Trump, filho do presidente, ao Uruguai, em janeiro, deixou uma conta de US$ 100 mil para os contribuin­tes americanos. Apesar da promessa de separar o público do privado, os gastos com hospedagem de agentes do serviço secreto e diplomatas foram pagos pelo governo.

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AUDE GUERRUCCI /EFE Decreto. Trump assina ordem que delimita o alcance da regulament­ação Dodd-Frank

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