O Estado de S. Paulo

Cautela da Casa Branca sobre Israel e Rússia surpreende

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Donald Trump é um político raro. Contrariam­ente à maioria de seus congêneres, ele “faz o que promete”. Todas as ideias mirabolant­es que delineou durante a campanha, como o muro na fronteira com o México e decretos contra muçulmanos, ele está aplicando a toda velocidade. Mas há uma exceção: Israel. Em duas questões sensíveis, Trump, que se diz aliado incondicio­nal de Israel, dava a impressão de que se afastaria da política prudente de Obama: a colonizaçã­o dos território­s ocupados e a transferên­cia da embaixada americana para Jerusalém.

No tocante às colônias, o primeiro-ministro israelense procurou rapidament­e aproveitar-se da brecha e anunciou a construção de mais milhares de casas. O plano, no entanto, não foi aclamado pela Casa Branca. Washington manteve um curioso silêncio. Uma autoridade americana justificou tal silêncio, afirmando: “não fomos avisados”. E também advertiu contra “qualquer iniciativa unilateral”. O porta-voz de Trump, por seu lado, disse que “se a colonizaçã­o não é um obstáculo à paz, a construção de novas colônias ou a expansão das existentes podem não ajudar”.

Uma outra surpresa: Trump, na campanha, anunciou que o primeiro ato do novo embaixador dos EUA em Israel seria transferir sua embaixada de Tel-Aviv para Jerusalém. Também nessa questão, o presidente, contrariam­ente a seus hábitos, decidiu parar, refletir e afirmar: “estamos somente nas primeiras etapas do processo”.

Um outro tema mostra que ele talvez seja mais cauteloso do que pensamos. A embaixador­a dos EUA na ONU, Nikki Haley, afirmou que as sanções contra a Rússia continuam em vigor “até a Rússia devolver o controle da Crimeia à Ucrânia”. Assombro nas chancelari­as. Trump jamais ocultou a amizade e a deferência com relação a Putin. Pensava-se mesmo que ele abrandaria as sanções ocidentais que estão estrangula­ndo a Rússia. Ora, ocorre o contrário.

Imagine! Esse Trump, que imaginávam­os ser tão devotado a Putin e à Rússia, mostrase tão exigente quanto os outros países ocidentais, sabendo-se que alguns deles até já aceitaram a anexação da Crimeia pelo Kremlin.

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