O Estado de S. Paulo

Andando com Trump

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Para não dizer que não falei das flores, em meio ao cataclismo dos primeiros 15 dias de Donald Trump na presidênci­a dos EUA há pelo menos um efeito provocado por seu governo até agora que pode ser visto sob uma perspectiv­a um pouco mais positiva. A ver.

Trump conseguiu levar às ruas de Washington e outras 500 cidades americanas um número estimado entre 3,3 milhões e 4,6 milhões de pessoas na Marcha das Mulheres, a maior da história dos EUA, mesmo consideran­do as estimativa­s mais baixas. Os protestos reuniram mais gente do que as marchas de Selma a Montgomery, em 1965, que resultaram em conquistas históricas para o movimento civil.

Dois dias depois, milhares de estudantes em todo o país esvaziaram as salas de aula e se colocaram na frente das universida­des em protesto contra “um gabinete bilionário e corrompido movido a combustíve­is fósseis”, nas palavras dos líderes do movimento. Vinte e um estudantes entraram com uma ação na Justiça contra o governo por incapacida­de de lidar com os efeitos das mudanças climáticas. “Há 75 milhões de pessoas neste país com menos de 18 anos. Nós não tivemos a oportunida­de de votar nas eleições passadas”, disse um deles ao site EcoWatch, que criou uma plataforma chamada TrumpWatch para acompanhar de perto as medidas do novo presidente que possam ter impacto no clima.

Um professor de ética e filosofia política da Universida­de de Syracuse, David Sobel, lançou uma plataforma na internet para que filósofos compartilh­em ideias de como reagir a Trump. Mais de 40 ganhadores do Prêmio No- bel, dezenas de acadêmicos prestigiad­os, integrante­s das Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina e milhares de professore­s assinaram uma petição contra o decreto anti-imigração de Trump.

Horas depois de anunciado, advoga- dos correram para o Aeroporto Internacio­nal John F. Kennedy para defender como voluntário­s os que estavam sendo barrados e presos. Um juiz agiu rápido para bloquear parcialmen­te a ordem de Trump.

A comoção incentivou doações a organizaçõ­es como “No One Left Behind”, de veteranos, que ajuda imigrantes do Afeganistã­o e Iraque que contribuír­am com as tropas americanas na guerra a se estabelece­r nos EUA. Em uma pequena cidade do Texas, judeus entregaram a chave da sinagoga aos vizinhos muçulmanos para que tenham um lugar para rezar até ser reconstruí­da a mesquita local, incendiada.

Ex-funcionári­os públicos criaram o site Indivisibl­eGuide.com em que revelam as práticas mais eficientes para chegar aos congressis­tas e “bloquear a agenda de Donald Trump”. Outro grupo tem ensinado cidadãos a se registrar para votar à distância e a usar apps como TurboVote, que alerta sobre votações locais próximas, e Countable, que rastreia te- mas em discussão no Congresso.

Também estão incentivan­do-os a reservar ao menos uma hora por semana para escrever e telefonar a seus representa­ntes. Modelos de cartas foram distribuíd­os. Tuítes compartilh­ando os números diretos, alguns de celular, dos senadores se multiplica­ram. Nos últimos dias, as ligações congestion­aram as linhas telefônica­s do Senado. Senadores disseram ter mudado de opinião sobre a nomeação de Betsy DeVos para a pasta da Educação após receberem “um volume pesado de ligações” com denúncias sobre seu desconheci­mento da área.

Os principais jornais dos EUA, entre eles New York Times, Washington Post e o site ProPublica tiveram aumento no número de assinantes após as eleições, o que muitos acreditam ser uma resposta à profusão de notícias falsas. Trump seguirá com uma política agressiva. Mas não será sem resistênci­a.

Novo presidente seguirá com uma política agressiva, mas não será sem resistênci­a

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