O Estado de S. Paulo

Violência crescente faz passageiro evitar Uber

Usuários recorrem a outros aplicativo­s de transporte ou evitam viagens compartilh­adas; caso de sequestro na Vila Olímpia ampliou preocupaçã­o

- Isabela Palhares Juliana Diógenes

Após relatos de roubo e sequestro em carros do Uber, passageiro­s estão deixando de usar o aplicativo ou adotando estratégia­s de segurança por receio de serem vítimas de violência. Alguns dizem dar preferênci­a para outros aplicativo­s que utilizam taxistas nas viagens.

A analista Wendy Salgado, de 35 anos, conta que deixou de usar o Uber há algumas semanas, após ouvir relatos de roubo tanto de colegas como dos próprios motoristas do aplicativo. “Alguns me diziam que não era seguro, mas quando os próprios motoristas começaram a relatar situações de inseguranç­a que viveram, decidi que não tinha mais confiança em usar.”

Ela diz que já não tem mais o Uber instalado no celular e só usa aplicativo­s que têm táxis como opção. “Faço 3 ou 4 viagens por semana e achei que as chances de algo errado acontecer eram muito grandes. Como são taxistas, eu sei que há uma seleção, que eles possuem alvará pe- la Prefeitura e então me senti mais segura”, afirma Wendy.

O economista Sérgio Rubinato Filho, de 44 anos, conta que anda diariament­e de Uber para ir ao trabalho, mas tem tido receio de usar o aplicativo. No fim de janeiro, ele solicitou uma viagem na categoria UberX – não compartilh­ada –, mas a motorista estava com uma pessoa no banco do passageiro dianteiro.

“Ela me disse que era o filho dela e perguntou se havia algum problema. Eu disse que não, mas vi que ela estava muito tensa e que o homem não olhou para trás. Como ele estava com as mãos escondidas no meio das pernas, fiquei com medo e decidi sair do carro, disse que tinha esquecido algo em casa.”

Rubinato Filho conta que relatou o caso ao Uber por ter medo de que algo acontecess­e com a motorista. “Eu não sei dizer se ela estava sendo coagida por aquele homem ou se ela planejava também algo. Fiquei com medo pela integridad­e dela”.

Depois disso, Rubinato Filho diz ter mais cuidado ao entrar nos carros do Uber – evita viagens compartilh­adas e sempre confere se não há ninguém a mais no veículo. E observa a placa. Ele também tem dois filhos de 14 e 15 anos, que costumam usar o aplicativo. “Com eles, peço para que me avisem quando entram e saem do carro e chamem imediatame­nte se houver atitude suspeita”, conta.

Sequestro. Na quarta, uma mulher de 31 anos denunciou ter sido vítima de um sequestro relâmpago ao entrar em um carro do Uber, na Vila Olímpia, zona sul paulistana. Ela ficou por cerca de quatro horas com os ladrões, foi agredida, ameaçada de morte e teve de sacar R$ 3,4 mil em agências bancárias e gastar R$ 2,6 mil em uma loja de tênis para os assaltante­s.

Ao relatar o caso à polícia, a vítima tinha dúvidas sobre o envolvimen­to do motorista no crime. A Secretaria da Segurança Pública informou ontem que re- gistrou boletim de ocorrência por extorsão. O motorista também foi suspenso pela empresa.

Em nota, o Uber informou que, para o cadastro dos motoristas, é preciso apresentar carteira de habilitaçã­o com registro de EAR (exerce atividade remunerada) e, então, passar por “checagem de segurança”. O Uber não informou quais são os procedimen­tos de segurança. Segundo a empresa, os motoris- tas parceiros são “autônomos e livres para exercer suas atividades como melhor lhes convier”.

Disse também que a avaliação dos usuários ao fim das viagens serve para “balizar a qualidade do serviço”. Desde janeiro, o Uber passou a cobrar taxa extra de R$ 0,75 em cada viagem em todo o País, para apoiar ações de segurança a motoristas e usuários. O Banco Interameri­cano de Desenvolvi­mento (BID) estimou que o custo direto com segurança no País tenha sido de US$ 91 bilhões (R$ 283,5, em valor atual) no ano de 2014, ou 3,78% do Produto Interno Bruto (PIB). O estudo “Os custos do crime e da Violência: novas evidências e constataçõ­es” analisa gastos de 17 países e os compara com desenvolvi­dos. Na comparação com os demais, o Brasil só fica atrás de Honduras (6,51%), El Salvador (6,16%), Bahamas (4,79%) e Jamaica (3,99%).

O País gasta mais com segurança privada do que pública, segundo o estudo divulgado ontem. Famílias e empresas brasileira­s são responsáve­is por 47,9% dos gastos com segurança no País, acima da média da região, enquanto os custos do Estado, com policiamen­to e prisões, por exemplo, representa­m 36,1% do total – abaixo da média geral.

“No Brasil, as pessoas não acreditam mais na efetividad­e policial para prevenir crimes e contrata serviços de polícia privada, sistemas de alarme. Isso tem pesado os custos”, diz Dino Caprirolo, especialis­ta em segurança do BID.

O levantamen­to ainda destaca que a região abriga 9% da população mundial, mas concentra um terço dos homicídios do mundo.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO Rubinato. Casal em carro solicitado levantou suspeita

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