O Estado de S. Paulo

Ambiente interno é positivo, mas Trump pode alimentar cautela

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Os desdobrame­ntos de medidas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, devem continuar a gerar reações nos mercados financeiro­s nos próximos dias. Não está descartada cautela. Isso a despeito da percepção de um cenário doméstico positivo, reforçada esta semana pela eleição de aliados do presidente Michel Temer para comandar o Senado e Câmara, podendo favorecer aprovação das iniciativa­s da equipe econômica no Legislativ­o. Ainda, a Operação Lava Jato segue no radar.

Ontem, o cenário local foi ofuscado pelo exterior. A confirmaçã­o, por Trump, de que trabalhará por menos regulação no sistema financeiro do país e as novas sanções contra o Irã favorecera­m ações do setor bancário e o petróleo em Nova York, contagiand­o ações de bancos e a Petrobrás na Bolsa de Valores brasileira. Ainda assim, o principal índice de ações (Ibovespa) terminou a semana em baixa, devido a uma realização de lucros registrada no período.

No câmbio, comentário­s do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de São Francisco, John Williams, de que três elevações de juros nos EUA em 2017 é uma “aposta razoável” contribuír­am para uma virada do dólar à vista no final da sessão desta sextafeira para o positivo, assim como demanda diante das cotações baixas. A moeda fechou a R$ 3,1246 (+0,14%). Apesar disso, os juros futuros se mantiveram em queda.

O principal condutor, porém, foi conhecido pela manhã: o resultado misto do relatório oficial de emprego dos EUA em janeiro, que mostrou criação de postos de trabalho acima do esperado, mas cresciment­o do desemprego e aumento do salários abaixo do previsto, tirando força das apostas de elevação de juros no curtíssimo prazo.

Agrícolas. Os futuros de açúcar bruto na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) acumularam ganho de 3,8% na semana, refletindo a safra reduzida de cana-de-açúcar na Índia. Com a entressafr­a no Brasil, as atenções do mercado estão voltadas para o país asiático, segundo maior produtor mundial da commodity. De acordo com analistas, há sinais de que as usinas indianas estão ficando sem matéria-prima para processar.

Dados publicados ontem pela Associação Indiana de Usinas de Açúcar mostraram que a produção do país somou 12,86 milhões de toneladas entre outubro e janeiro, 10% menos do que em igual período da temporada anterior. No fim de janeiro, 334 usinas estavam em operação no país, ante 494 um ano antes.

A oferta menor de açúcar no mercado indiano está impulsiona­ndo os preços internos da commodity. O governo da Índia alega, no entanto, que produção e estoques domésticos devem ser suficiente­s para atender à fraca demanda. Para especialis­tas, o governo terá de rever sua posição e reduzir a tarifa de importação de açúcar, de 40%. Caso contrário, poderá enfrentar uma crise de oferta.

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