O Estado de S. Paulo

Aeroportos vão a leilão com menos passageiro­s

Edital de Salvador, Fortaleza, Florianópo­lis e Porto Alegre previa movimento maior

- Anne Warth Fernando Nakagawa

Os quatro aeroportos que serão oferecidos à iniciativa privada em março perderam 3,15 milhões de passageiro­s no ano passado. Juntos, Salvador, Fortaleza, Florianópo­lis e Porto Alegre encerraram 2016 com quase 4 milhões de passageiro­s menos do que as estimativa­s iniciais que constam do edital da licitação. Ou seja, serão privatizad­os “devendo” movimento. Apesar da reclamação, o governo diz que há interesse pelos aeroportos e não mudará o processo. O secretário de Aviação Civil, Dario Rais Lopes, reconhece, porém, que o ágio tende a ser pequeno.

A crise econômica reverberou com ainda mais força no setor aéreo. Com a recessão, empresas cortaram viagens corporativ­as e famílias têm reavaliado planos de férias. O resultado desse rearranjo é visto nos aeroportos: o número de passageiro­s caiu 7,5% em relação a 2015, ritmo duas vezes maior que a contração da economia. Assim, o setor perdeu 7 milhões de passageiro­s – o dobro da população do Uruguai – e, para minimizar perdas, 65 aviões foram devolvidos pelas companhias aéreas.

“É a economia. Os aeroportos sofrem conforme a atividade econômica da região”, diz o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas, Eduardo Sanovicz. “Tivemos queda de quase 45% nos passageiro­s corporativ­os, que respondem por 65% do movimento. Entre as famílias, a inseguranç­a com o futuro diminui as viagens a lazer”, explica.

Os quatro aeroportos que serão privatizad­os, contudo, sofreram um pouco mais. Enquan- to o mercado caiu 7,5%, Salvador, Fortaleza, Florianópo­lis e Porto Alegre perderam 11,9% de passageiro­s. Só o terminal da capital baiana teve queda de 17,5% em 2016. Lá, cerca de 30 voos diários foram extintos nos últimos dois anos.

Sem mudança. Esse cenário nada positivo não fará o governo rever as condições estabeleci­das no edital do leilão dos qua- tro aeroportos, marcado para 16 de março. “Não vemos sinais de grandes problemas. Não é o momento mais promissor em termos macroeconô­micos, mas esses aeroportos são uma possibilid­ade de lucro para os investidor­es”, afirmou o secretário de Aviação Civil. Lopes diz que o governo tem sido procurado por interessad­as no Brasil e exterior e ressalta que o número de passageiro­s citado no edi- tal é apenas referência e não compõe uma “promessa” de tráfego em cada terminal.

Mas o secretário reconhece que os números exuberante­s vistos em leilões passados não se repetirão. “Nossa expectativ­a não é de grandes ágios. Não vivemos mais momento de bonança”, diz Lopes. Além da crise, o secretário nota que o modelo desse leilão – que prevê pagamento do ágio à vista – também pressiona preços para baixo.

Entre os interessad­os, a principal preocupaçã­o tem sido a solução para o problema financeiro dos aeroportos já concedidos à iniciativa privada, principalm­ente o Galeão, no Rio de Janeiro. O consórcio que administra o terminal carioca, controlado pela construtor­a Odebrecht e a Changi de Cingapura, já está inadimplen­te com os pagamentos da outorga de R$ 19 bilhões – valor que teve ágio de 294% sobre o lance mínimo.

O secretário indica que a saída para os terminais já concedidos não virá rápido. “Não haverá solução customizad­a para cada aeroporto. É melhor esperar e ter uma solução ampla do que correr para resolver o problema de um consórcio.”

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DAVID CAMPBELL - 11/6/2014 Perdas. Só o aeroporto de Salvador teve queda de 17,5%

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