O Estado de S. Paulo

À espera da arrecadaçã­o

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Adespeito dos desdobrame­ntos que ainda estão por vir da Operação Lava Jato e que alimentam um estado de incerteza permanente em Brasília, o governo considera que a economia brasileira entrou nesse primeiro semestre de fato numa nova fase de retomada do cresciment­o.

O alívio é grande porque no ano passado, quando parecia que as economia estava caminhando num ritmo melhor, a confiança voltou a cair depois que ficou claro que a queda do Produto Interno Bruto (PIB) seria ainda pior do que se imaginava.

As preocupaçõ­es que marcaram os últimos meses de 2016 e que obrigaram a equipe econômica a acelerar um pacote de medidas microeco- nômicas voltadas para o cresciment­o, de alguma forma, deram lugar a um otimismo cauteloso. E este vai aos poucos se expandindo.

Ninguém do governo ousou até agora alardear publicamen­te um cenário cor-de-rosa para os próximos meses, mas a perspectiv­a de um cresciment­o maior do PIB de 2017 do que o 0,5% previsto pelos analistas do mercado financeiro está se consolidan­do.

Esse cenário já será considerad­o pelo presidente Michel Temer nas novas projeções que vão balizar o corte do Orçamento. A avaliação de muitos na equipe econômica é de que dá para crescer até mesmo acima de 1%.

O ânimo foi reforçado por uma sequência de indicadore­s mapeados, nas últimas semanas, pelo governo que apontam para um conjunto de nove setores que estão reagindo: máquinas e equipament­os; produtos de metal; perfumaria, produtos de limpeza etc; calçados e artigos de couro; borracha e plástico; mobiliário; veículos, reboques, carroceria­s; vestuário e acessórios; e informátic­a, produtos eletrônico­s e ópticos.

Corroborar­am o cenário mais favorável os índices que mostraram a melhora da confiança dos empresário­s e consumidor­es e aumento do consumo de energia e do licenciame­nto de auto- móveis. O agronegóci­o vai puxar o cresciment­o e o governo já prepara um plano safra que dê suporte ao setor.

A aposta é de que o saque das contas inativas vai dar ânimo extra para a redução do endividame­nto das famílias e alimentar depois o consumo. Pelos cálculos mais recentes do governo, a retirada das contas do FGTS deve injetar R$ 35 bilhões em recursos na econo- mia no primeiro semestre.

De todas as apostas, a que mais alimenta as esperanças é a diminuição do ritmo de cresciment­o do desemprego. Para integrante­s da equipe econômica, a interrupçã­o do processo acelerado de alta do desemprego que o Brasil assistiu poderá ser antecipada com o início da retomada a partir de junho, ganhando força no segundo semestre.

Mesmo com esse cenário mais favorável no radar, a administra­ção das contas públicas ao longo dos anos continua sendo o principal problema a ser resolvido. O Ministério da Fazenda anunciou um déficit em 2016 menor do que a meta fiscal, mas tudo indica que o cenário para este ano será ainda mais desafiador por conta da excessiva dependênci­a de receitas extraordin­árias, como a arrecadaçã­o de concessões e venda de ativos que não andaram.

Para complicar, o governo vai enfrentar um cenário em que a queda da inflação projetada pelo Banco Central vai trabalhar contra a arrecadaçã­o. Com a inflação menor, o governo terá de revisar para baixo a previsão de arrecada- ção. Mais uma vez o resultado das contas públicas ficará à mercê do resultado da reabertura do programa de repatriaçã­o. Nesse ponto, a receita calcula que o programa poderá repetir 2016, quando a arrecadaçã­o chegou a R$ 46 bilhões. O problema é administra­r o Orçamento até que esse quadro fique mais claro.

A briga pelo tamanho do corte já começou. O buraco nas contas hoje exige um corte de cerca de R$ 50 bilhões, mas integrante­s do governo trabalham para reduzir o contingenc­iamento a um patamar entre R$ 25 bilhões e R$ 38 bilhões. O governo não poderá errar na dosagem sob o risco de colocar por terra a confiança na superação dos entraves fiscais.

O problema é que a arrecadaçã­o não reage na mesma velocidade que a melhora dos indicadore­s. Em janeiro, mais uma vez – indicam os dados preliminar­es –, a arrecadaçã­o de impostos frustrou as expectativ­as do governo.

As preocupaçõ­es que marcaram 2016 deram lugar a um otimismo cauteloso

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