O Estado de S. Paulo

Após Mariana, MG afrouxa licença ambiental

No vácuo de uma lei federal, governo do Estado criou ‘licenciame­nto trifásico’, que libera três fases de uma vez e facilita empreendim­ento

- André Borges /

O governo de Minas Gerais decidiu alterar as regras do licenciame­nto ambiental no Estado, com o propósito de eliminar o grande passivo de autorizaçõ­es que passou a acumular. À revelia do governo federal, que não consegue chegar a um consenso para emplacar a nova proposta de Lei Geral do Licenciame­nto no Congresso, o Estado fez mudanças profundas em seu processo ambiental, sob sua conta e risco.

Há duas semanas, um decreto estadual passou a permitir que um empreendim­ento obtenha, de uma só tacada, a licença prévia e a licença de instalação, ou seja, a construção é liberada automatica­mente. Se o impacto e o risco associados ao projeto não for tão alto, poderá receber, inclusive, a sua licença de operação, com os três documentos entregues em uma única fase.

Até a semana passada, Minas Gerais seguia o mesmo rito aplicado pelo Ibama em projetos federais, tendo as três etapas avaliadas de forma independen­te, com uma série de exigências a serem cumpridas pelo empreended­or entre cada uma dessas autorizaçõ­es.

Além do que batizou de “licenciame­nto trifásico”, o gover- no mineiro quer repassar aos seus municípios uma série de processos de licenciame­nto que hoje estão sob a tutela do Estado. Com essa mudança, que deve ser oficializa­da nos próximos dias, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvi­mento Sustentáve­l (Semad) pretende reduzir ainda mais as pilhas de processos.

Lentidão. As mudanças atendem a demandas do setor mineral, que tem pressionad­o o governo estadual a acelerar o processo de licenciame­nto. Na avaliação das mineradora­s, centenas de projetos estão paralisado­s por causa da lentidão dessas autorizaçõ­es, processo que ficou mais complexo depois da catástrofe ocorrida em Mariana em novembro de 2015, quando o rompimento da barragem da Samarco, que pertence à Vale e à BHP Billiton, matou 18 pes-

Na gaveta soas e despejou 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos sobre cidades, rios e florestas.

A fila do licenciame­nto ambiental, de fato, tem aumentado. Segundo dados da Semad, em dezembro 2014, o passivo do licenciame­nto chegava a 2.665 processos em análise. Esse número saltou para 3.166 pedidos em 2015 e hoje chega a 3.530 casos pendentes de avaliação. As solicitaçõ­es para uso de recursos hídricos subiram de 13 mil em 2014 para espantosos 25 mil no fim do ano passado. O único passivo que caiu está atrelado a cortes de vegetação.

Para a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), todas as medidas para responsabi­lizar os culpados pelo maior desastre ambiental do País estão sendo tomadas, mas outras empresas estariam sendo indiretame­nte punidas. Nas contas da Fiemg, há 281 processos de licenciame­nto de mineração que aguardam uma definição da Semad. “A decisão sobre o empreendim­ento tem de ser tomada, pelo sim ou pelo não. O que não podemos é produzir algo que aumente a desestrutu­ração do Estado, que já é muito grande”, diz Olavo Machado Junior, presidente da Fiemg.

Na avaliação de Bruno Feigelson, advogado especializ­ado no setor de mineração, a demora

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