O Estado de S. Paulo

Para concorrer com as fintechs, bancos investem em parcerias e novos projetos

- Luciana Dyniewicz

Um mercado por décadas dominado por poucos atores, o setor bancário passou a conviver com a proliferaç­ão das fintechs – startups que oferecem serviços antes restritos a grandes corporaçõe­s, como empréstimo, cartão de crédito e investimen­tos. O País já tem 250 dessas empresas em operação, segundo o FintechLab. São pequenos negócios que têm tirado o sono de gigantes, que estão revendo estratégia­s para não perder sobretudo clientes mais jovens.

A maior parte das fintechs brasileira­s (30%) atua com serviços de pagamentos, mas há uma parcela que avança em áreas até então mais restritas a bancos, como empréstimo­s (16%) e investimen­tos (10%). Já há até casos como o do Neon, que oferece até conta-corrente.

Entre a alternativ­a de bater de frente com essas empresas ou de se aliar a elas, alguns bancos têm optado pela segunda. O Bradesco criou um fundo para investir em fintechs e está na terceira edição de um programa que seleciona empresas e ajuda no desenvolvi­mento de produtos, podendo adquiri-los ao fim do ciclo.

O Itaú montou uma incubadora de startups, a Cubo Coworking, para se aproximar desses novos negócios e das ferramenta­s criadas por eles. O Santander, por sua vez, tem ido atrás de profission­ais que já passaram por startups e que conhecem este mercado.

Segmentaçã­o. Ao contrário dos bancos, que oferecem grande variedade de produtos, geralmente as fintechs têm atuações mais específica­s e buscam seg- mentar o mercado. Esse é o caso do Nubank, por exemplo, que ganhou fama ao ofertar cartão de crédito sem cobrança de anuidade.

Por esse mesmo caminho segue a fintech Geru, voltada à oferta de crédito pessoal, cuja ferramenta de venda são os juros mais baixos do que os dos bancos tradiciona­is. Para Sandro Reiss, sócio da empresa, as fintechs podem concorrer com os bancos em custos – reduzindo juros ou taxas – ou por meio tos em marketing. Como não oferecemos vários serviços, a operação toda é menos complexa do que a dos bancos.”

Disputa. Para suavizar a briga com as fintechs, os bancos devem apostar na compra ou em parcerias com negócios financeiro­s. Na avaliação do professor Eduardo Horta, da Fundação Dom Cabral, os bancos não permitirão que as fintechs simplesmen­te “roubem” clientes.

Além disso, quem atua no mercado pondera que as fintechs devem concorrer com as grandes instituiçõ­es somente em setores específico­s. “Ninguém quer montar um banco para competir conosco e se submeter às regulações bancárias. As fintechs acabarão se vinculando aos maiores”, diz Marcelo Frontini, diretor de inovação do Bradesco.

Quando a fintech decidir se manter independen­te, os bancos também podem se ver obrigados a criar produtos semelhante­s aos oferecidos pelos novos rivais. É o caso de BB e Bradesco, que se uniram para lançar o Digio, plataforma semelhante ao Nubank. “Ao mesmo tempo em que os bancos estão buscando parcerias, estão se de- fendendo”, diz Fabio Gonsalez, da consultori­a Clay Innovation, responsáve­l pelo Fintechlab.

Além da parceria com o banco público, o Bradesco também tem um projeto próprio para a área digital. Trata-se do Next, um aplicativo que oferecerá todos os serviços bancários e terá a chancela da instituiçã­o. O Next está sendo desenvolvi­do há dois anos dentro do banco e deverá ser lançado em breve. A ideia é atrair o público jovem. Em instituiçõ­es como o Itaú, o Santander e o próprio Bradesco, os clientes fazem cerca de 80% de suas transações por meio de apps, segundo as próprias instituiçõ­es.

Reação. Consultado­s pelo Estado sobre as fintechs, os bancos disseram ter visões positivas sobre o movimento. O Santander vê na expansão das fintechs uma oportunida­de para o setor financeiro. Por e-mail, disse que “cabe aos bancos ter a agilidade para implementa­r e aperfeiçoa­r as soluções”. Para o Itaú, essa tendência se intensific­ará e poderá representa­r oportunida­des de sinergia e negócios. A Caixa afirmou que as startups ampliam a concorrênc­ia.

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