O Estado de S. Paulo

BB QUER, AOS 208 ANOS, AGIR COMO STARTUP

Banco criou o próprio laboratóri­o de inovação no Vale do Silício, centro de inovação dos EUA

- Bruno Capelas

Oano de 2017 começou com expectativ­as altas no Banco do Brasil. A instituiçã­o financeira tenta colher os primeiros resultados de um plano ambicioso, iniciado em 2016, para ser uma empresa mais inovadora. Em junho do ano passado, o banco criou um laboratóri­o no Vale do Silício, região dos Estados Unidos conhecida pela grande concentraç­ão de gigantes da tecnologia, como Apple e Google.

Dois grupos de funcionári­os da empresa, com cinco pessoas cada, já foram enviados para o Vale desde então. No fim de fevereiro, a terceira turma embarca para a Califórnia. A missão deles é atuar como startups “de verdade”, com projetos próprios, além de entrarem em contato com a cultura inovadora da região.

“Queremos que o banco tenha essa leveza de startup num corpinho de 208 anos”, diz Joaquim Venâncio, líder de produtos digitais do Banco do Brasil. “Pai” do proje- to, Venâncio fez parte da primeira turma enviada pelo banco à Califórnia. Lá, ele e mais quatro colegas desenvolve­ram o protótipo de um sistema de emissão de ingressos ao longo de três meses. “Testamos algo bem diferente do sistema do banco”, explica o executivo.

Na pele. A ideia do Banco do Brasil é que os funcionári­os tenham a experiênci­a de criar uma startup. Cada membro das equipes enviadas ao Vale, por exemplo, é considerad­o “sóciofunda­dor” de um projeto, que deve ser desenvolvi­do nos três meses de viagem. Ao chegar ao Brasil, o grupo precisa apresentar seu protótipo aos “investidor­es” – no caso, diretores do banco que podem apoiar a ideia do grupo e garantir que ele seja desenvolvi­do na instituiçã­o.

A turma de Venâncio, por exemplo, continua desenvolve­ndo o sistema de ingressos. No meio de fevereiro, eles terão um “pitch” – jargão do ramo para “apresentaç­ão” – com outros diretores e vice-presidente­s do Banco do Brasil.

Se aprovados, serão “acelera- dos” – isto é, receberão verba para seguir com a ideia. “Se quero ser como uma startup, não posso ser hipócrita de achar que não preciso passar pelo mesmo processo”, defende Alexandre Lima, gerente de projetos corporativ­os do BB e colega de turma de Venâncio.

Look do dia Na viagem ao Vale, o executivo do Banco do Brasil, Alexandre Lima, se inspirou no “figurino único” de Steve Jobs e Mark Zuckerberg. Ele comprou 30 camisetas pretas para usar diariament­e. “Só uso isso agora. É muito mais prático”, diz ele.

Segundo a dupla, que contou sua experiênci­a durante a Campus Party – evento de tecnologia realizado até amanhã em São Paulo –, o sistema de emissão de ingressos poderá ser usado no futuro em várias sedes do Centro Cultural Banco do Brasil. A plataforma, porém, não tem data prevista para entrar no ar. Seu maior diferencia­l é a segurança, que evita a falsificaç­ão de ingressos. “Levamos a segurança bancária para outro universo”, diz Lima.

Inspiração. A segunda turma, enviada pelo banco entre setembro e novembro de 2016, criou uma solução para “facilitar a divi- são de contas”, ainda sem previsão de lançamento.

As duas experiênci­as bem-sucedidas levaram o Banco do Brasil a abrir, em dezembro de 2016, outro laboratóri­o de inovação, mas em Brasília. Por lá, já passaram oito equipes.

Alguns produtos mais simples criados no centro de Brasília já estão em uso pelos clientes. É o caso do gerenciado­r financeiro Minhas Finanças, o aplicativo de abertura de contacorre­nte Conta Fácil e o Pagar e Receber, que facilita transferên­cias entre correntist­as.

“Outras não deram certo. Faz parte do processo”, diz Lima. “Nos EUA, quem falhou é visto como alguém que aprendeu algo. Aqui, quem falha é um perdedor. Precisamos mudar isso.”

Bagagem. Os funcionári­os trouxeram um pouco da cultura do Vale do Silício para o dia a dia no banco. As reuniões de projetos da startup, por exemplo, duram no máximo uma hora. “Se precisar continuar, marcamos outra. É preciso ter respeito pelos horários das pessoas.”

Qualquer funcionári­o pode se inscrever para criar uma startup do programa. “Já tivemos de escrivão a gerentes em seleções”, diz Lima.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO-1/2/2017 Pioneiros. Alexandre Lima e Joaquim Venâncio fizeram parte da primeira turma do BB no laboratóri­o no Vale do Silício

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