Dois terços dos britânicos são contra burca
A exemplo de França e Alemanha, britânicos rejeitam cada vez mais véus integrais islâmicos; premiê afasta discussão
O extremismo muçulmano, a ameaça terrorista e a rejeição crescente à imigração no Reino Unido está colocando em xeque o modelo de integração adotado pelo país nos últimos 40 anos. Até há pouco orgulhosos de sua abordagem multicultu- ral, do respeito absoluto da cultura original do imigrante, os britânicos demonstram intolerância crescente com o uso ostensivo de tradições e símbolos religiosos no espaço público.
Pesquisas indicam que dois terços da população defende a proibição da burca e do jihab, os véus integrais usados por mulheres muçulmanas. Essa tendência também foi verificada em outros países da Europa, como França e Alemanha, que já proibiram a vestimenta no espaço público ou estão elaborando legislação a respeito.
No ano passado, um levanta- mento do instituto YouGov realizada no ano passado indicou que 57% dos entrevistados defendem o banimento da burca e do jihab, enquanto 25% são contrários à intervenção do Estado no assunto. Entre os grupos etários, apenas jovens com idade entre 18 e 24 anos se disseram majoritariamente contra o banimento da burca.
A polêmica sobre o tema é forte nas redes sociais, em que proliferam páginas a respeito. Legendas radicais, como o Partido pela Independência do Reino Unido (Ukip), de Nigel Farage, e grupos de extrema direita co- mo Britain First – que realizará protesto contra o terrorismo islâmico neste fim de semana em várias cidades –, transformaram o assunto em bandeira.
Em 2016, o então primeiroministro, David Cameron, chegou a apoiar uma legislação a respeito “em defensa dos direitos da mulher”, dada a pressão crescente da opinião pública. Sua sucessora, Theresa May, porém, descarta o banimento legal da burca.
Em Londres, onde vivem 607 mil muçulmanos – a maior minoria religiosa, com 12,4% da população –, e em periferias como Newham ou Tower Hamlets, onde os muçulmanos chegam a 30% da população, o tema do banimento causa indignação.
Surfaraz Mustafa, 20 anos, porta-voz da mesquita Fazl, em Wandsworth, no sudoeste de Londres, reclama do debate. “Quem somos nós para impor algo a alguém? Muita gente vê a burca como a opressão da mulher, mas as mulheres de nossa comunidade são mais educadas que os homens. São médicas, estudantes, pessoas que têm vidas profissionais ativas. O Islã é uma religião que promove os direitos das mulheres”, argumenta Mustafa. “Proibir a burca é oprimir a mulher.”
Em todas as mesquitas visitadas pelo Estado, o uso da burca foi apontado como um sinal de liberdade de escolha da mulher muçulmana. Mas nenhuma mulher foi autorizada a falar com a reportagem sobre o tema.