O Estado de S. Paulo

À chucha caladinha...

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Aexpressão usada no título desta crônica surgiu em Portugal e foi popular por aqui no tempo do Onça, bem nos antigament­es, na época em que a Mata Atlântica vicejava linda e verde pela costa do País. Sempre achei simpática, apesar de fora de moda. Significa tomar uma decisão à sorrelfa (opa, esta também é do tempo da bisavô do Conselheir­o Acácio), no silêncio da noite. Ou, no popular: na moita.

Pois foi à chucha caladinha que, na quinta-feira, poucas horas antes do jogo da seleção com o Uruguai, em Montevidéu, a CBF reuniu no Rio as 27 federações, com as quais definiu alterações no estatuto. As mais importante­s são a que permite uma reeleição para a presidênci­a e a que altera peso dos votos para escolha do cargo.

A geringonça funcionará assim: o presidente poderá ter dois mandatos seguidos; Mas a regra não entra em vigor agora, só vale a partir de 2019. Quer dizer, daqui dois anos, se quiser, Marco Polo Del Nero apresenta candidatur­a. Suponhamos que vença; fica no cargo até 2023 e, então, tenta reeleição. Se sensibiliz­ar o Colégio Eleitoral, senta na cadeira principal até 2027. Daí, não poderá concorrer de novo. Então, não; caso contrário, será bagunça, ora essa.

A escolha de tão importante função para os destinos da nação é responsabi­lidade de federações, mais os 20 clubes da Série A e os 20 da Série B. Com uma ligeira mudança no “valor” de cada voto. Times da A entram com peso 2; os da B terão 1. Já o sufrágio das federações conta 3 por cabeça. Matemática de pré-primário: a soma dos votos dos 40 da turma da elite da bola chega a 60 pontos. E a das federações? 81.

Isso mesmo, as representa­ções burocrátic­as da CBF nos Estados, digamos assim, têm mais voz ativa do que as equipes. A explicação prosaica para a canetada é a de proporcion­ar equilíbrio e democracia na tomada de decisões. Na visão de quem comanda a CBF, seria elitizar o futebol, se um punhado de agremiaçõe­s fosse mais importante do que milhares de pequenos clubes espalhados pelos mais longínquos rincões da Terra de Santa Cruz.

No Bom Retiro velho de guerra, onde comadres não tinham papas na lín- gua, isso se chamaria capote nos times, que na lógica são a razão da existência de federações e CBF. Essas entidades não seriam nada sem a matriz representa­da por quem produz o espetáculo. Foi um passa-moleque nos clubes, um recado claro para eles de que têm votos que, na prática, não valem coisa alguma. Basta que as federações fechem em torno de um nome para elegerem quem a CBF quiser. E isso geral- mente acontece, porque a CBF controla seus satélites, com raras exceções.

A seleção evolui, sob comando de Tite e com o talento de Neymar e companheir­os. Já a mentalidad­e administra­tiva do futebol de cá regride aos tempos do desembarqu­e de Pedro Álvares Cabral e grande comitiva. Dizem, até, que alguns cartolas regionais vieram com as caravelas...

Enquanto foco estava na seleção, CBF muda estatuto e dá mais força para federações

Duelo tenso. São Paulo e Corinthian­s estão indo bem no Paulistão, porém têm oscilado em apresentaç­ões recentes e provocam dúvidas em torno do futuro, sobretudo em torneios como o Brasileiro. Passarão por nova provação no clássico de hoje.

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