O Estado de S. Paulo

‘Tour da seleção’ fortalece Del Nero

CBF leva equipe a vários Estados para agradar aliados políticos, que comandam federações, e dirigentes de clubes

- Almir Leite Ciro Campos

A presença da seleção brasileira em São Paulo para a partida de terça-feira contra o Paraguai, na Arena Corinthian­s, tem dupla serventia para os planos da CBF. Ajuda a resgatar a ligação da equipe com uma cidade cujo público é normalment­e muito crítico e a estreitar laços políticos com Corinthian­s e São Paulo, embora exista risco de a relação com os clubes do País esfriar após manobra do comando da entidade que, ao alterar o estatuto, fortaleceu as federações e tirou poder das agremiaçõe­s.

Fazer agrados às federações, aliás, é prática comum na CBF desde as administra­ções anteriores, pois garante votos nas eleições da entidade. São usados artifícios como mesada, convites a dirigentes de federação para chefiar delegações e levar a seleção aos Estados. No caso de São Paulo, de onde saiu o atual presidente da CBF, Marco Polo del Nero, ex-FPF, não havia essa necessidad­e, pois o atual presidente, Reinaldo Carneiro Bastos, é aliado de primeira hora. Mas jogar na cidade é importante. Ainda mais com a seleção brasileira em boa fase.

O “dilema’’, desta vez, foi não melindrar os clubes. A CBF e o São Paulo chegaram a conversar sobre a possibilid­ade de levar a partida com o Paraguai ao Morumbi, porém prevaleceu na escolha a estrutura mais moderna da Arena Corinthian­s, erguida para a Copa. Para compensar, o treino aberto à torcida, ontem, foi no estádio são-paulino.

O clube também recebeu a seleção para treino no CT da Barra Funda na última terça, dia do embarque para Montevidéu.

Del Nero fez mais: colocou o presidente são-paulino, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, como o chefe da delegação nestas duas rodadas das Eliminatór­ias, com jogos contra Uruguai (4 a 1) e Paraguai. “Eu já tinha intenção de convidá-lo há tempos, mas por questão de agenda não era possível ele aceitar. Agora deu’’, disse o cartola da CBF por ocasião da escolha.

Leco ficou satisfeito com a deferência e também pela CBF ter incluído o São Paulo em sua programaçã­o paulistana. “Será uma honra receber a seleção em nosso CT. Fico feliz em ser o chefe da delegação’’, disse.

Agrado aos amigos. Já a estratégia de levar a seleção brasileira às bases dos aliados (federação) levou a equipe, nessas Eliminatór­ias Sul-Americanas, a jogar em Fortaleza, Salvador, Recife, Manaus, Natal e Belo Horizonte. O roteiro incluiu novas arenas e, principalm­ente, estádios que tiveram pouca utilização depois da Copa do Mundo.

A passagem da seleção por diferentes Estados do Nordeste também teve a inclusão de dirigentes locais como chefes da delegação. O presidente da Federação Norte-rio-grandense de Futebol, José Vanildo da Silva, por exemplo, comandou a comitiva nacional que foi a Mérida em outubro passado, quando a seleção de Tite enfrentou a Venezuela pelas Eliminatór­ias. Dias antes, o Brasil havia jogado com a Bolívia, em Natal.

Assim, Del Nero obtém apoio incondicio­nal dos presidente­s de federações. As 27 entidades ficaram mais robustas politicame­nte nesta semana. Pelo novo estatuto da CBF, elas terão peso três nas votações (como para presidente na eleição de 2019, por exemplo, que deverá ter Del Nero como candidato à reeleição). Ou seja, terão 81 votos. Como os clubes da Série A terão peso dois e os da Série B terão peso um, eles poderão somar, desde que se unam totalmente, apenas 60 votos – menos de 81.

O tour da seleção pelo Brasil vai continuar. Mesmo porque até o técnico Tite deseja, por questões técnica e para aproximar a equipe da torcida brasileira, visitar vários Estados. “Para mim, o Brasil tem de jogar em São Paulo, Rio, Porto Alegre e Paraná’’, disse no ano passado.

A próxima escala poderá ser no Rio, em agosto. Desde que o imbróglio envolvendo o Maracanã tenha sido resolvido e a seleção possa usar o lendário estádio para o jogo com o Equador. Uma das exigências da CBF para escolher a sede dos jogos, segundo apurou o Estado, é não ter de gastar dinheiro para deixar os estádios em condições – para que isso não vire uma prerrogati­va para outras cidades pedirem para a mesma regalia.

A estratégia dificulta a realização de um jogo em Cuiabá, onde a arena não tem condições plenas de uso, por exemplo.

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MARCELLO ZAMBRANA/AGIF- 21/03/2017 Anfitrião. Carlos Augusto de Barros, presidente do São Paulo, se disse feliz por receber no CT do clube a seleção de Tite
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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO Torcida. Muitas crianças foram ver o treino da seleção

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