O Estado de S. Paulo

Em uma semana, perda de exportador­es com a Carne Fraca supera US$ 130 mi

- Cristian Favaro José Roberto Gomes

Apenas uma semana após a deflagraçã­o da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, o setor de carnes contabiliz­a perdas de mais de US$ 130 milhões. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), ligada aos setores de aves e suínos, estima uma perda com exportaçõe­s de US$ 40 milhões até a sexta-feira. Já o setor de carne bovina, representa­do pela Associação Brasileira das Indústrias Exportador­as de Carne (Abiec), embora não tenha um número fechado, estima que pelo menos US$ 96 milhões em produtos prontos para a exportação estejam parados no Porto de Santos (SP), impedidas de seguir para o exterior.

Em entrevista ao Broadcast Agro, o presidente executivo da ABPA, Francisco Turra, afirma que a primeira semana da Operação Carne Fraca foi de “impacto muito forte” para o setor. “Virou um momento muito dramático, nunca vi igual, e com dificuldad­es de se reverter”, diz. “A solução não demandará uma semana ou uma simples palavra oficial. Tudo o que deixar de ser exportado não tem espaço para ser absorvido (internamen­te). Então, tem de diminuir produção e reduzir empregos, o que já começa a ocorrer”, afirma.

Na semana passada, a JBS, por exemplo, anunciou a suspensão da produção de carne bovina em 33 de suas 36 unidades no Brasil, e informou que, quando retomar as atividades, a partir de amanhã, as fábricas vão operar com um corte de 35% na produção. Segundo a empresa, isso seria feito para ajustar a produção à demanda em queda.

‘Absurdo’. Com o bloqueio de vários países às importaçõe­s de carnes brasileira­s, os embarques praticamen­te ficaram paralisado­s. O próprio Ministério da Agricultur­a estimou que a queda chega a mais de 90%. “É uma coisa absurda”, afirmou o ministro Blairo Maggi.

O ministro acredita que as exportaçõe­s poderão ser regulariza­das num prazo entre uma semana e 15 dias. Ainda assim, o prejuízo já ocorreu. No mínimo, os frigorífic­os perderam de uma semana a 15 dias nos volu- mes de produção que haviam programado para este ano. Maggi estimou durante a semana que as perdas com exportaçõe­s de carne poderiam chegar a US$ 1,5 bilhão, se a crise não for solucionad­a rapidament­e.

Para tentar reverter a situação, o próprio ministro vem trabalhand­o com a Abiec e a ABPA em busca de estratégia­s. Uma delas, segundo o presidente da Abiec, Antônio Jorge Camardelli, seria uma missão brasileira aos países que suspendera­m as compras da carne brasileira. “A primeira visita, que possivelme­nte contará com Maggi, seria à China (que ontem anunciou que retomará as importaçõe­s, exceto dos 21 frigorífic­os investigad­os na Carne Fraca), e depois Hong Kong e Argélia, “importante mercado para o Brasil e que vinha ampliando significat­ivamente as compras desde janeiro”, disse Camardelli.

As vendas de carnes têm peso importante dentro da economia brasileira. No ano passado, respondera­m por 7,5% do total das exportaçõe­s do País, com um impacto aproximado de 0,8% do PIB. Por isso, são grandes as preocupaçõ­es de que essa crise se prolongue por mais tempo.

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