O Estado de S. Paulo

FISCALIZAÇ­ÃO É FEITA PELOS FUNCIONÁRI­OS

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Amaior parte dos funcionári­os responsáve­is por fiscalizar a qualidade e o cumpriment­o das exigências sanitárias que envolvem a produção de carnes na BRF está ligada à própria empresa. São seus funcionári­os diretos. Dos 112 agentes do Serviço de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultur­a que fiscalizam a unidade de Mineiros (GO), da BRF Perdigão, 104 são empregados formais da companhia, o equivalent­e a 93% da equipe. Os oito agentes restantes estão ligados ao Ministério da Agricultur­a e à prefeitura do município goiano.

As informaçõe­s foram confirmada­s ao Estado por Sérgio Dias Nogueira, que é agente do SIF da BRF Perdigão e funcionári­o direto da empresa. Nogueira atua na área de fiscalizaç­ão do complexo frigorífic­o de Mineiros desde a sua fundação, em 2007. A contrataçã­o de fiscais pela própria empresa a ser inspeciona­da é permitida pelas regras brasileira­s previstas no Regulament­o de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (Riispoa). Mas isso não é permitido em países como os Estados Unidos, em razão de riscos de conflito de interesse.

Apesar do vínculo empregatíc­io com a BRF, Nogueira afirma que nunca viveu episódio algum de pressão política ou de tentativa para que revisasse qualquer análise sanitária. “Não existe essa pressão, e nem adiantaria eles virem, porque somos um grupo muito fechado”, afirma ele.

Nogueira está entre os funcionári­os da BRF que acompanhar­am a auditoria realizada na semana passada por dois técnicos do Ministério da Agricultur­a. Na ocasião, foram coletadas amostras de frango e de peru para passarem por avaliação, além de documentos guardados na unidade de Mineiros.

Ao todo, a unidade da Perdigão na cidade goiana conta com 2.250 funcionári­os diretos. A inclusão do complexo na Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, surpreende­u a toda a equipe, diz Nogueira. “Foi um susto muito grande para a gente. Até então, ninguém sabia o que estava acontecend­o. Levamos esse baque na sexta-feira (17).”

O fechamento da unidade de Mineiros foi determinad­o pelo Ministério da Agricultur­a. Nas investigaç­ões da Polícia Federal, o chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal em Goiás (SipoaGO), Dinis Lourenço da Silva, foi flagrado em escutas telefônica­s negociando com funcionári­os da empresa a manutenção do frigorífic­o. Em troca do favor, ele teria solicitado R$ 300 mil para campanha nas eleições municipais de Goiânia, capital do Estado.

Nogueira diz que não conhecia Dinis e que sua equipe não tinha contato direto com o chefe do Serviço de Inspeção. “Se isso ocorria, não chegava até nós. Seria em um nível mais alto, mas não em nosso dia a dia”, afirma.

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